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A ONU Mulheres é a organização das Nações Unidas dedicada à igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres.

Brasil

Parte 2 – Da terra à voz: histórias de cinco mulheres indígenas que produzem conhecimento e lutam pelos direitos humanos



26.04.2023


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A luta pelo direito à participação efetiva na política e em assuntos públicos; assim como a luta pelo direito à cultura, saúde, trabalho, educação, alimentação e à um meio ambiente sustentável é uma constante na vida das mulheres indígenas. Entre diferentes culturas, etnias, sonhos, conquistas e desafios de ser mulher indígena, as histórias de muitas mulheres se entrelaçam e nos mostram a força de um grito coletivo, que constrói conhecimento como forma de resistência e empoderamento.

Inspirada na trajetória de 5 mulheres indígenas que fazem do trabalho uma ferramenta de construção do empoderamento coletivo, a série de matérias “Da terra à voz: histórias de cinco mulheres indígenas que produzem conhecimento e lutam pelos direitos humanos” traz um pouco da força de mulheres que costuram raízes e fazem da união entre cada uma delas um tecido de histórias e sabedorias coletivas.

Márcia Mura (Tanãmak), do Povo Mura (RO)  

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Fotos: Isa Hansen Katupyryb

Márcia Mura (Tanãmak) é uma mulher indígena, mãe, avó e professora. Doutora em história social pela USP, ela se dedica a recuperar a memória do povo Mura no Rio Madeira. “Eu fui a primeira da minha família a entrar em uma universidade. Até a graduação, os estudos foram para poder ter uma condição de vida melhor. No mestrado e doutorado, passou a ser ferramenta de luta política para recuperar nossas memórias e territórios. Comunidades que hoje são chamadas de comunidades ribeirinhas. Meu projeto foi trabalhar essa questão da afirmação indígena”, conta a doutora e pesquisadora.  

Tanãmak explica que os seringais foram construídos em cima do território Mura, em Rondônia (RO), e de outros parentes. “Consideramos que o Rio Madeira é o nosso Rio, território ancestral Mura. O nome mais antigo nos registros é Iruri, que significa rio que treme”, conta.

Tanãmak recorda das memórias de infância: do gosto de gonguinho de babaçu frito; das histórias da mãe; do sonho de encontrar o fim do céu e de ser bailarina; mas também fala das dificuldades, que foram muitas. 

“Enquanto mulher indígena, a primeira conquista foi ser reconhecida pelo meu povo. Precisei tecer novamente os fios de memória indígena da minha família e, mesmo que eu esteja envolvida diretamente na luta indígena desde os meus 18 anos, somente em 2012, quando estava fazendo doutorado, fiz minha autodeclaração Mura”.  

Ao falar sobre ser mulher indígena, ela traz a importância do feminismo comunitário e do respeito com a Mãe Terra: “É preciso haver mais ações de fortalecimento das mulheres, independente do lugar onde elas estejam, seja nos territórios demarcados, nos territórios em reinvindicação, em contexto urbano, ribeirinho, extrativista, caiçara. Onde elas estiverem, a partir do momento em que elas se afirmarem indígenas, elas precisam ser fortalecidas”. 

Tanãmak ainda acrescenta: “É preciso ter ações de proteção dessas mulheres. Tem muitas mulheres tendo suas vidas ameaçadas. Entre nós, Mura, temos cacicas que estão com suas vidas ameaçadas. A gente sabe dos riscos que a gente corre por conta dos enfrentamentos que fazemos. Precisamos ampliar esses apoios para a manutenção das lutas dessas lideranças”.  

Por Íris Cruz, consultora da ONU Mulheres Brasil