ONU Mulheres Américas e Caribe faz 14 recomendações para que mulheres e igualdade de gênero sejam incluídas na resposta à pandemia do COVID-19
17.03.2020
Trabalhadoras do setor de saúde, trabalhadoras domésticas, mulheres na economia informal, migrantes, refugiadas e mulheres em situação de violência são algumas das mulheres mais expostas ao COVID-19 e precisam ser envolvidas em todas as fases da resposta e nas tomadas de decisão nacionais e locais. Esta é uma das 14 recomendações da ONU Mulheres para Américas e Caribe, divulgadas, nesta terça-feira (17/3), por meio da publicação COVID-19 na América Latina e no Caribe: como incorporar mulheres e igualdade de gênero na gestão da resposta à crise sobre as dimensões de gênero na pandemia.
Para o escritório regional da ONU Mulheres, “garantir a dimensão de gênero na resposta requer alocação de recursos suficientes para responder às necessidades de mulheres e meninas; promover consultas diretas com organizações de mulheres sobre a situação das mulheres e as medidas apropriadas para enfrentar a pandemia; garantir a disponibilidade de dados desagregados por sexo e análise de gênero, incluindo taxas diferenciadas de infecção, impactos diferenciados da carga econômica e de assistência, barreiras de acesso das mulheres e incidência de violência doméstica e sexual, além de assegurar que as necessidades imediatas das mulheres que trabalham no setor de saúde sejam atendidas”.
A ONU Mulheres alerta que o COVID-19 tem impactos e implicações diferentes para mulheres e homens. E destaca que as mulheres são essenciais na luta contra a pandemia sejam elas socorristas, profissionais de saúde, voluntárias da comunidade e prestadoras de cuidados. Ressalta, ainda, que as mulheres estão na linha de frente da resposta e, por isso, assumem custos físicos e emocionais.
Mulheres e impacto econômico – “As mulheres continuam sendo as mais afetadas pelo trabalho não-remunerado. Devido à saturação dos sistemas de saúde e ao fechamento das escolas, as tarefas de cuidado recaem principalmente sobre as mulheres que, em geral, têm a responsabilidade de cuidar de familiares doentes, pessoas idosas e crianças”, acrescenta o documento.
O escritório regional da ONU Mulheres alerta para as especificidades econômicas das mulheres decorrentes do impacto econômico do COVID-19. “O emprego e os serviços de assistência afetam as trabalhadoras em geral, e em particular, as trabalhadoras informais e domésticas, porque a experiência demonstrou que as quarentenas reduzem consideravelmente as atividades econômicas e de subsistência e afetam setores altamente geradores de empregos para as mulheres, como comércio e turismo”.
De acordo com a entidade, a redução da atividade econômica afeta, em primeira instância, “trabalhadoras informais que perdem seus meios de sustento de vida quase imediatamente, sem nenhuma rede ou possibilidade de substituir a renda diária”. Outro aspecto é o duplo desafio das trabalhadoras domésticas, porque “de um lado, elas enfrentam desafios decorrentes da maior carga de cuidados devido ao aumento do trabalho não-remunerado nas residências e do cuidado das crianças durante o fechamento das escolas; por outro lado, a possibilidade de perda de renda quando, por motivos de saúde, são solicitadas a parar de trabalhar porque são as consideram um risco de contágio para as famílias com as quais trabalham”.
Violência contra as mulheres – A violência de gênero é outro componente de atenção em pandemias, como o COVID-19. “Em um contexto de emergência, aumentam os riscos de violência contra as mulheres e meninas, especialmente a violência doméstica, aumentam devido ao crescimento das tensões em casa e também o isolamento das mulheres. As sobreviventes da violência podem enfrentar obstáculos adicionais para fugir de situações violentas ou acessar ordens de proteção que salvam vidas e/ou serviços essenciais devido a fatores como restrições ao movimento de quarentena”, considera a ONU Mulheres para Américas e Caribe.
A entidade registra, ainda, que a pandemia do COVID-19 causou um aumento no estigma, xenofobia e discriminação, como observado na Ásia em que foram verificadas “expressões relacionadas à raça, gênero e situação de imigração, que levam a maior desigualdade, distanciam as pessoas dos serviços de que precisam e exacerbam estereótipos”. Outra observação sobre as especificidades de gênero é a exploração sexual para fins comerciais decorrentes de “mecanismos negativos de enfrentamento à crise”, a exemplo do fechamento de serviços de alimentação nas escolas e comunidades, escassez de alimentos e restrições ao movimento de pessoas, como parte da falta de segurança alimentar e dificuldades de acesso a alimentos nutritivos e seguros.
Mulheres, saúde e trabalho – Entre as medidas de saúde pública, a ONU Mulheres para Américas e Caribe recomenda “que as mensagens cheguem as mulheres na sua diversidade e abordem as necessidades dos diferentes papéis sociais desempenhados pelas mulheres, além de garantir a atenção primária e o acesso aos serviços de saúde sexual e reprodutiva. No âmbito dos direitos econômicos, a entidade reitera o pedido “para medidas diretas de compensação a trabalhadoras informais, incluindo trabalhadoras de saúde, trabalhadoras domésticas, migrantes e dos setores econômicos mais afetados pela pandemia, além de reconhecer e redistribuir a carga de trabalho não-remunerado em casa por causa dos cuidados de saúde e de cuidado de crianças, pessoas idosas e pessoas com deficiência”.
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