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A ONU Mulheres é a organização das Nações Unidas dedicada à igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres.

Brasil

Na última Copa do Mundo de Marta, Seleção Feminina vai em busca de sua primeira estrela no maior Mundial de futebol feminino de todos os tempos



19.07.2023


Às vésperas do Mundial, Marta e Tamires relevam expectativas para Seleção Brasileira e avaliam como futebol de mulheres se tornou palco de reivindicações por direitos.

Na última Copa do Mundo de Marta, Seleção Feminina vai em busca de sua primeira estrela no maior Mundial de futebol feminino de todos os tempos/uma vitoria leva a outra

Seleção Feminina estreia na Copa do Mundo contra o Panamá no dia 24 de julho, às 8h (de Brasília). Foto: Thaís Magalhães/CBF.

Vai começar a maior Copa do Mundo de Futebol Feminino de todos os tempos! Nesta quinta (20), a bola começa a rolar na Austrália e na Nova Zelândia inaugurando a nona edição do Mundial organizado pela FIFA – a primeira a ter 32 seleções na disputa desde sua criação em 1991. O Brasil vai em busca de seu primeiro título sob o comando da treinadora sueca Pia Sundhage. Será também a última participação de Marta nas Copas. Eleita seis vezes a melhor jogadora do mundo e atualmente Embaixadora da Boa Vontade da ONU Mulheres, a “Rainha” do futebol anunciou que esta será sua despedida dos Mundiais.  

Em entrevista à ONU Mulheres, Marta falou sobre a preparação da Seleção Feminina, as expectativas para disputar um Mundial pela última vez e sobre como o futebol feminino tem se consolidado como um espaço de protestos e reivindicações pela igualdade de gênero e pelos direitos das mulheres. 

“É a Copa do Mundo da virada, veremos um nível altíssimo de futebol em campo e com muitas lutas fora dele também, com mulheres cada vez mais cientes do seu papel na sociedade e empoderadas com suas falas”, avaliou a camisa 10. 

Na última Copa do Mundo de Marta, Seleção Feminina vai em busca de sua primeira estrela no maior Mundial de futebol feminino de todos os tempos/uma vitoria leva a outra

Marta é a maior artilheira da história das Copas, com 17 gols em cinco edições. Foto: Thaís Magalhães/CBF.

Marta vai disputar sua sexta Copa do Mundo. A primeira foi em 2003, com apenas 17 anos, e ela balançou as redes em todas as edições do torneio desde então. Em duas décadas, se tornou a artilheira da Seleção Feminina, com 122 gols, conquistou duas medalhas olímpicas de prata (2004 e 2008), uma de prata em Copa do Mundo (2007) e duas de ouro em Jogos Pan-Americanos (2003 e 2007). Na Austrália, pode ser tornar a primeira futebolista entre homens e mulheres a marcar em seis edições de Copa do Mundo.

“Me sinto mais experiente. Aos 37 anos, sei que não tenho mais a mesma forma física da minha primeira Copa do Mundo com 17 anos, mas estou aqui com muita vontade de ajudar e trazer esse título. É também uma Marta mais consciente do seu papel no time, com certeza com muita vontade de construir algo especial com esse grupo que é tão forte, unido e disposto a jogar de igual para a igual com todas as seleções. Podem ter certeza que o Brasil vai dar o melhor nessa Copa do Mundo”, explicou.

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Rafaelle, Tamires e Debinha: jogadoras mais experientes da Seleção Feminina inspiram atletas mais jovens. Foto: Thaís Magalhães/CBF.

Um dos trunfos da Seleção Feminina nesta competição é ter um elenco forte que mescla o talento e a velocidade de jogadoras mais jovens, que vão disputar um Mundial pela primeira vez – como Antônia, Ary Borges, Gabi Nunes e Kerolin -, com nomes mais experientes – como Marta e Tamires -, que passam maior confiança para o grupo nos momentos de pressão. Tamires, que também atuou como atleta de referencia do programa Uma Vitória Leva à Outra, programa implementado por ONU Mulheres em parceria com o Comitê Olímpico Internacional e a ONG Empodera, analisou o momento da equipe:

“Estamos com um grupo muito unido e trabalhando muito para levar o título. De 2019 pra cá, a Seleção mudou muito, temos uma equipe com novas caras e com jogadoras também muito talentosas para assumir essa responsabilidade de defender o Brasil em uma Copa do Mundo”, afirmou Tamires à ONU Mulheres.

“O futebol feminino tem crescido muito na performance e em suas lutas. Essa vai ser a Copa do Mundo da virada para a modalidade, dentro e fora de campo. Vamos ver seleções muito preparadas e jogando no mais alto nível, mas fora dele veremos mulheres fortes e, que depois de muito lutarem, têm seu lugar de fala na sociedade, que hoje são tratadas com profissionalismo e como o alto nível também chegou aos clubes”, avaliou a atleta.

Na última Copa do Mundo de Marta, Seleção Feminina vai em busca de sua primeira estrela no maior Mundial de futebol feminino de todos os tempos/uma vitoria leva a outra

Tamires e Marta comemoram gol durante treino da Seleção na Austrália. Foto: Thaís Magalhães/CBF.

A melhor classificação do Brasil na história da Copa do Mundo foi em 2007, quando a seleção chegou à final, mas perdeu o ouro para a Alemanha. Na ocasião, as atletas brasileiras subiram ao pódio com uma faixa de protesto em que se lia “Brasil, precisamos de apoio”, um alerta para a falta de investimento, de estrutura e de oportunidades no futebol feminino. Foi uma das muitas manifestações feitas por futebolistas em prol da igualdade de gênero e dos direitos das mulheres no esporte. Por ter sido um espaço historicamente dominado por homens em muitos países, o futebol tem se consolidado como uma plataforma e um palco em que as jogadoras chamam atenção para esses problemas.

Nesse sentido, a ONU Mulheres se uniu à FIFA em uma iniciativa para tornar um dos maiores espetáculos esportivos do planeta também um palco para fortalecer os direitos humanos das mulheres.  Na campanha global “Futebol Une o Mundo”, as capitãs das seleções que disputarão o Mundial usarão braçadeiras com mensagens ligadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 da ONU, como união pela igualdade de gênero, pelo fim da violência contra meninas e mulheres, pela paz, pelos povos indígenas, pela educação, pela erradicação da fome, entre outros.

A ONU Mulheres Brasil reconhece o potencial do esporte como ferramenta para empoderar meninas e mulheres e eliminar a violência de gênero. Em 2023, a entidade iniciou uma nova fase da parceria com o Comitê Olímpico Internacional (COI), intitulada “Igualdade de Gênero por meio do Esporte”, que aproveita o legado do programa Uma Vitória Leva à Outra e oferece uma plataforma de intercâmbio de boas práticas para inclusão de gênero no esporte, além de incentivar governos, agências da ONU, organizações de esporte para o desenvolvimento e a paz e outros agentes do ecossistema esportivo a se comprometerem com os princípios do Esporte para a Geração Igualdade.

Na última Copa do Mundo de Marta, Seleção Feminina vai em busca de sua primeira estrela no maior Mundial de futebol feminino de todos os tempos/uma vitoria leva a outra

Seleção Feminina vai em busca de seu primeiro título na Copa do Mundo. Foto: Thaís Magalhães/CBF.

“As manifestações são muito importantes, o futebol feminino é um espaço de luta e de fala. Quanto mais as mulheres tiverem espaço para expor suas opiniões e defenderem suas convicções, a sociedade será beneficiada como um todo”, avalia Marta.

Além de Marta, a Copa do Mundo da Austrália e Nova Zelândia também marca a despedida de outra grande estrela: a estadunidense Megan Rapinoe, que ganhou os holofotes na última edição do Mundial em 2019 não apenas por seus gols, mas por usar sua voz para exigir melhores condições para o futebol de mulheres, inclusive eliminação da desigualdade salarial, de premiações e de patrocínios. Maior campeã da Copa do Mundo e da Olimpíada, a seleção feminina de futebol dos Estados Unidos processou a Federação (US Soccer), que foi obrigada pela Justiça a pagar indenização e garantir salários igualitários para homens e mulheres no futebol.

A Copa do Mundo da Austrália e da Nova Zelândia terá um recorde de premiação da FIFA para o futebol de mulheres: o time campeão receberá US$ 15,7 milhões, quatro vezes mais do que o valor da última edição da Copa, em 2019, que foi de US$ 4 milhões). Também serão distribuídos US$ 110 milhões em premiações para as seleções e as jogadoras receberão prêmios individuais de até US$ 270 mil por sua participação. Apesar de serem valores inéditos para a modalidade, ainda é extremamente baixo na comparação com o futebol masculino – campeã da Copa em 2022, a Argetina faturou US$ 42 milhões pelo título, quase três vezes mais do que as mulheres receberão.

Na última Copa do Mundo de Marta, Seleção Feminina vai em busca de sua primeira estrela no maior Mundial de futebol feminino de todos os tempos/uma vitoria leva a outra

Técnica da Seleção Feminina, a sueca Pia Sundhage. Foto: Thaís Magalhães/CBF.

Além de Rapinoe, Marta também se manifestou pela igualdade salarial em 2019. Após marcar seu primeiro gol, a atleta apontou para a chuteira, que não tinha patrocínio de fornecedor de material esportivo – apenas um símbolo azul e rosa do movimentoGo Equal pela igualdade de gênero e paridade salarial – para protestar pela diferença dos valores de patrocínio oferecidos para homens e para mulheres.

Em sua sexta e última Copa do Mundo, ela espera seguir inspirando jogadoras dentro e fora do gramado.

“Esse trabalho de inspirar meninas e mulheres como Embaixadora da Boa Vontade da ONU Mulheres, é um trabalho diário. Como jogadora da seleção brasileira, sei que já ganhei muitos título individuais, mas eu jogo um esporte coletivo e isso é uma construção diária com as minhas companheiras e também uma troca. Eu aprendo muito com elas e elas aprendem comigo. E é muito especial estar sempre aberta para ter essa troca. Mas, sempre que posso, passo da minha experiência e da nossa história pra chegar até aquí”, arrematou a camisa 10.

O Brasil está no grupo F, ao lado de Panamá, França e Jamaica. A estreia da equipe será no dia 24 de julho, contra o Panamá, às 8h (horário de Brasília). Durante a competição, a ONU Mulheres e o Museu do Futebol unirão forças em uma campanha conjunta para promover a competição e dar visibilidade para as mulheres do futebol, trazendo curiosidades, histórias e informações sobre diferentes edições da Copa do Mundo e sobre as atletas.

(Por Olga Bagatini, especialista em comunicação na ONU Mulheres Brasil).