“Ela já vai completar três anos e a sua casa sempre foi o abrigo, porque eu não tenho um trabalho estável”, afirma venezuelana abrigada em Boa Vista
10.02.2022
Há três anos, Yenni vinha da Venezuela para o Brasil pela terceira vez. Sem recursos, grávida de sete meses e com um filho de três anos na época, a família dormiu nas ruas de Boa Vista até que conseguisse um lugar em um abrigo. Poucas semanas depois, ela dava à luz a pequena Branyelis. Hoje com três anos de idade, Branyelis ainda não conhece outra casa que não a Unidade de Habitação para Refugiados (RHU) do abrigo. Sem rede de apoio e sem acesso a oportunidades, Yenni engrossa as estatísticas das mulheres venezuelanas que permanecem longe da integração socioeconômica no Brasil.
A história de Yenni e o nascimento de Branyelis se tornou famosa em dezembro de 2018. A venezuelana entrou em trabalho de parto durante a madrugada e, antes que a equipe médica chegasse ao local, a menina nasceu no abrigo. Na época, ela estava ansiosa para voltar a trabalhar, para conseguir enviar dinheiro à família que cuidava de outros dois filhos que haviam ficado na Venezuela. De lá pra cá, ela conseguiu trazer os filhos maiores para o Brasil. A oportunidade de um emprego formal e de uma casa fora do abrigo, porém, permanecem inalcançáveis.
“O que acontece é que, às vezes, quando somos mães solteiras, é difícil conseguir um emprego e, ao menos pra mim, de sair do abrigo, porque não me dão trabalho. Não me dão trabalho porque ela está pequena e, como eles dizem, ela está dependente de mim porque é menor de idade. Então, como não tenho os recursos para ter uma casa, para alugar, me resta ficar no abrigo. Aqui, ao menos, tenho teto, tenho onde dormir, e tenho a comida. Mas já tenho muito tempo aqui”, afirma Yenni.
De acordo com pesquisa divulgada em dezembro por ONU Mulheres, ACNUR e UNFPA, as mulheres representam 54% da população venezuelana que permanece nos abrigos em Roraima. Assim como Yenni, 91% das pessoas venezuelanas abrigadas têm filhos, mas a taxa de desemprego recai mais sobre as mulheres – enquanto quase 34% das venezuelanas abrigadas estão desempregadas, entre os homens este índice é de 28%.
Em 2021, ONU Mulheres, ACNUR e UNFPA, com o financiamento do Governo de Luxemburgo, iniciaram o programa conjunto Empoderamento Econômico de Mulheres Refugiadas e Migrantes no Brasil. Entre os objetivos está a mobilização de empresas e organizações para a abertura de vagas e oportunidades para que mulheres, como Yenni, possam ter uma fonte de renda e um emprego digno para manterem suas famílias. O programa conjunto também inclui a mobilização do setor privado para o oferecimento do auxílio creche e da assistência às mães, para que consigam se inserir no mercado de trabalho.
“Agora, o que eu quero é trabalhar. Quero trabalhar para tirar meus filhos daqui. Não posso viver toda a vida em um abrigo. Vou pra quatro anos já”, ressalta Yenni. “Ela já vai completar três anos, e a sua casa tem sido uma barraca, porque eu não tenho um trabalho estável”.
Conheça mais sobre a história de Yenni no vídeo a seguir: