• Português

A ONU Mulheres é a organização das Nações Unidas dedicada à igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres.

Brasil

Parte 5 – Da terra à voz: histórias de cinco mulheres indígenas que produzem conhecimento e lutam pelos direitos humanos



29.04.2023


Parte 5 – Da terra à voz: histórias de cinco mulheres indígenas que produzem conhecimento e lutam pelos direitos humanos/mulheres indigenas direitos humanos direitosdasmulheres

A luta pelo direito à participação efetiva na política e em assuntos públicos; assim como a luta pelo direito à cultura, saúde, trabalho, educação, alimentação e à um meio ambiente sustentável é uma constante na vida das mulheres indígenas. Entre diferentes culturas, etnias, sonhos, conquistas e desafios de ser mulher indígena, as histórias de muitas mulheres se entrelaçam e nos mostram a força de um grito coletivo, que constrói conhecimento como forma de resistência e empoderamento.

Inspirada na trajetória de 5 mulheres indígenas que fazem do trabalho uma ferramenta de construção do empoderamento coletivo, a série de matérias “Da terra à voz: histórias de cinco mulheres indígenas que produzem conhecimento e lutam pelos direitos humanos” traz um pouco da força de mulheres que costuram raízes e fazem da união entre cada uma delas um tecido de histórias e sabedorias coletivas.

Juciene Ricarte Cardoso Tarairiú, do povo Tarairiú (PB) 

Parte 5 – Da terra à voz: histórias de cinco mulheres indígenas que produzem conhecimento e lutam pelos direitos humanos/mulheres indigenas direitos humanos direitosdasmulheres

Bisavó e Juciene

Historiadora, mestre, doutora pela Universidade Federal de Pernambuco e pós-doutora pela Universidade de Lisboa, Juciene é uma mulher indígena, professora e pesquisadora. Os laços com as mulheres da família guiaram a trajetória acadêmica, assim como toda a vida de Juciene. É da história de luta que ela extrai a força para dar voz às mulheres indígenas e defender seus direitos.  

Juciene conta que, assim como muitas mulheres indígenas, sua bisavó, Maria Ana Vidal Tarairiú, nascida na segunda metade do século XIX, foi raptada do seu povo e levada para viver no contexto urbano. O cabelo longo, até então usadosolto, começou a ser amarrado diariamente. Os conhecimentos de Maria Ana Vidal sobre ervas medicinais foram passados de geração em geração, mas a sua história foi calada. 

A infância de Juciene foi difícil e a fome trouxe muito sofrimento. Sozinha e sem escolaridade, a mãe cuidou das filhas incentivando que o estudo fosse a chave para novas oportunidades. Enquanto criança, o maior sonho de Juciene era poder dar uma vida melhor para a mãe, que desmaiava para poder alimentar as filhas em vez de comer. Quando cresceu, Juciene conseguiu cuidar da mãe e garantir que ela tivesse uma condição de vida digna.  

“Um dos maiores desafios para mim foi justamente assumir aquilo que realmente sou: uma mulher indígena”. A busca pela identidade e autorreconhecimento, tanto na vida acadêmica de historiadora, quanto na vida pessoal, é o fio motivador dos estudos da pesquisadora.  

“Muitas vezes, o não dizer é também discurso, muitas vezes é também o dito. Mesmo quando se tenta apagar e silenciar, as protagonistas estão ali. Estão lutando e estão no dia a dia”. A reflexão apresentada por Juciene traz a realidade de vida de muitas mulheres indígenas que são silenciadas, que tiveram suas histórias caladas e que são sobreviventes do machismo, do etnocídio, do epistemicídio e do ecocídio. Elas ilustram a história da busca pela voz das mulheres de diferentes gerações da família, do reconhecimento da ancestralidade e da afirmação diária de ser mulher indígena.  

Por Íris Cruz, consultora da ONU Mulheres Brasil