Em Roraima, agências da ONU reforçam atenção a refugiadas com deficiência ou que cuidam de pessoas deficientes
16.02.2023
Por meio do Empoderando Refugiadas, ACNUR, ONU Mulheres e Pacto Global oferecem capacitação para o mercado de trabalho brasileiro e mobilizam empresas para que mais vagas inclusivas sejam abertas
Mesmo com mais anos de estudo, mulheres refugiadas e migrantes que vivem no Brasil enfrentam mais dificuldades que os homens para ingressarem no mercado formal de trabalho, de acordo com estudo divulgado por agências da ONU em 2022. As dificuldades aumentam quando são mulheres com deficiência, com alguma doença crônica ou quando elas são responsáveis pelo cuidado de alguma pessoa com deficiência. Preocupadas com esta lacuna na integração socioeconômica de mulheres refugiadas e migrantes no Brasil, a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), a ONU Mulheres e o Pacto Global da ONU têm unido esforços para oferecer capacitação e para mobilizar empresas na contratação desse público.
As ações fazem parte do projeto Empoderando Refugiadas que, desde 2016, já formou 418 mulheres em sete edições – dessas, mais de 230 foram contratadas por empresas mobilizadas. Em cada uma das últimas três edições, 20 vagas dos cursos oferecidos pelo projeto foram destinadas a mulheres com deficiências, cuidadoras de pessoas com deficiências, pessoas que vivem de doenças crônicas, mulheres com mais de 50 anos e população LGBTQIA+. As capacitações são realizadas pela Turma do Jiló, organização sem fins lucrativos que trabalha com a educação inclusiva e buscou selecionar perfis de mulheres refugiadas e migrantes que mais sentem dificuldades em realizar cursos ou conseguir um emprego.
Yaczira, de 59 anos, é uma das mulheres alcançadas. Há cinco meses no Brasil, a venezuelana é mãe solo de uma criança com deficiência e vive em um dos abrigos de Boa Vista (RR). Ela conta que chegou a distribuir currículos na cidade, mas nunca conseguiu uma oportunidade. “Além de sermos mulheres migrantes, existe também a dificuldade de sairmos em busca de trabalho, pois não temos com quem deixar nossos filhos”, relatou.
Oportunidade e inclusão – “Por meio do Empoderando Refugiadas, nós ajudamos a selecionar mulheres que fazem parte do grupo da diversidade. Existe dentro dos abrigos um grupo de mulheres que acaba sempre ficando para trás e são as últimas de fato a conseguirem uma oportunidade de emprego. São mulheres com alguma deficiência, mães de crianças com deficiência, mulheres LBTQIA+, e, a todas essas interseccionalidades, agregamos a questão de gênero e do refúgio”, explica Carolina Videira, presidente da Turma do Jiló.
Por meio dos cursos oferecidos, as mulheres constroem um currículo biopsicossocial. “Não é um currículo comum, é um currículo onde destacamos o que essas mulheres são capazes de fazer, as habilidades que elas têm, os pontos fortes, quais as facilidades, onde elas podem se destacar”, ressalta Carolina. Além da construção do currículo e das capacitações, as mulheres recebem acompanhamento antes, durante e após os processos seletivos.
De acordo com a especialista de Empoderamento Econômico na ONU Mulheres, Flávia Muniz, a iniciativa é capaz de mostrar as múltiplas capacidades dessas mulheres. “É obrigação de todas e todos garantir que ninguém seja deixado para trás na luta em prol da igualdade de gênero. Isso significa garantir que todas as mulheres sejam reconhecidas na sua diversidade, na sua capacidade, nos seus interesses e suas necessidades específicas”, afirma. “Quando a ONU Mulheres se junta com Turma do Jiló, Pacto Global da ONU no Brasil e ACNUR no Empoderando Refugiadas, o que a gente faz é mostrar para a sociedade que só através de uma perspectiva interseccional a gente vai garantir que todas as mulheres serão empoderadas e poderão mostrar para o mundo a sua capacidade”, completa.
Como entidade das Nações Unidas também engajada na promoção do empoderamento econômico das mulheres refugiadas e migrantes, o Pacto Global ressalta a garantia dos direitos humanos durante as ações de empregabilidade. “O Pacto Global da ONU tem o papel de sensibilizar, engajar e informar as empresas na contratação de pessoas em situação de refúgio, tendo em vista a promoção de Direitos Humanos nas práticas empresariais. Abrir a porta para pessoas refugiadas é uma oportunidade de crescimento, inovação e diversidade no ambiente de trabalho”, destaca o CEO do Pacto Global da ONU no Brasil, Carlo Pereira.
Para Camila Sombra, associada de Soluções Duradouras do ACNUR, o sucesso da iniciativa também está na diversidade e na inclusão. “O Empoderando Refugiadas destaca o potencial das mulheres refugiadas e migrantes para sua contratação, valoriza a transversalidade ao atender diferentes perfis de mulheres, em especial os que enfrentam mais dificuldade de inserção no mercado de trabalho, e incorpora na prática o investimento social e de resultados efetivos para as empresas”, destaca.
É nesta oportunidade que Yaczira está focada. Ela é aluna assídua do curso de Atendimento e Técnicas de Vendas e espera que, mais preparada para o mercado de trabalho brasileiro, consiga um emprego formal que lhe permita garantir um pouco mais de conforto e assistência ao filho. “Na Venezuela, eu era professora e tinha um emprego. Aqui em Roraima, tive a chance de fazer um curso de capacitação e me surpreendi, pois, tem muitas oportunidades no Brasil para quem quer estudar. Ser selecionada para fazer o curso, para mim foi uma experiência muito bonita e que me faz aprender muitas coisas.”
Sobre o Empoderando Refugiadas – Iniciado em 2015 em São Paulo, o Empoderando Refugiadas chegou a Roraima para responder ao aumento do fluxo de pessoas refugiadas e migrantes vindas da Venezuela e, sobretudo, promover oportunidades para mulheres. Desde 2018, mais de 9 mil pessoas foram interiorizadas com vaga de emprego sinalizada, das quais apenas 29% são mulheres. Neste sentido, o projeto visa trabalhar junto com a Operação Acolhida para elevar a participação de mulheres nessa modalidade de interiorização. Realizado por ACNUR, Pacto Global da ONU no Brasil e ONU Mulheres, o projeto visa oferecer a empresas a possibilidade de contar com mais diversidade em seus quadros e promover os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), ao mesmo tempo em que possibilita que mulheres refugiadas, solicitantes da condição de refugiada e migrantes possam ter uma vida digna e com garantia de acesso a direitos no país.
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