UNOPS, ONU Mulheres e Ministério Público do Trabalho lançam diagnóstico inédito sobre trabalhadoras costureiras em São Paulo
29.08.2022
Pesquisa ouviu trabalhadoras brasileiras, refugiadas e migrantes sobre condições de trabalho, renda e perspectivas sobre o futuro
Mulheres, mães e com renda menor que dois salários mínimos por mês – abaixo da remuneração média na indústria da moda. Esse é o retrato das costureiras, de acordo com um diagnóstico lançado nesta segunda-feira (29) pelo Escritório das Nações Unidas de Serviços para Projetos (UNOPS), pela ONU Mulheres e pelo Ministério Público do Trabalho (MPT), por meio da Procuradoria Regional do Trabalho da 2ª Região (PRT-SP).
O estudo Mulheres na confecção: estudo sobre gênero e condições de trabalho na Indústri da Moda é inédito e mapeou quais são as condições de trabalho de costureiras atuantes na região metropolitana de São Paulo. A área concentra 12% do total de vagas de emprego do setor de confecção no país. Além de fazer ampla revisão bibliográfica, o estudo ouviu 140 costureiras, que contaram, também, sobre suas aspirações para o futuro. Entre as entrevistadas, estão refugiadas e migrantes (correspondendo a 30,7% do total da amostra).
A pesquisa considerou a perspectiva interseccional, procurando dar conta de alguns dos aspectos sociais e econômicos que influenciam a vida dessas profissionais. Foram levantados dados como a idade das trabalhadoras, a escolaridade, a raça, se têm ou não filhos/filhas e o local onde desenvolvem suas atividades laborais. Menos da metade delas (45%), por exemplo, concluiu o ensino médio e a maioria (62,1%) exerce a profissão na própria residência.
Ainda de acordo com o diagnóstico, 31% das brasileiras trabalham com carteira assinada, enquanto esse percentual é de apenas 7% entre as refugiadas e imigrantes. Nesse último grupo, a maioria (51,2%) atua de maneira autônoma, sem vínculo formal. O estudo foi viabilizado com recursos oriundos da aplicação da legislação trabalhista, destinados pela PRT-SP. A iniciativa foi coordenada pelo UNOPS, com apoio técnico da ONU Mulheres.
Outros dados significativos dizem respeito à renda familiar das trabalhadoras – cuja média está abaixo do recebido por outros profissionais da indústria têxtil – e ao fato de que 80% delas são mães. A maioria sente a necessidade de haver mais políticas públicas voltadas para o cuidado com as crianças.
Fast fashion – A pesquisa foi feita pela Tewá 225, consultoria especializada em socioeconomia, e confirmou o fenômeno fast fashion (que exige produção acelerada das peças e coloca muitas trabalhadoras e trabalhadores em situação de precariedade).
“O principal problema é que a cadeia está estruturada para atender à alta demanda, implicando em menores preços e grandes volumes. As condições de trabalho vão sendo precarizadas, para manter o preço pago por peça baixo. Na base dessa cadeia, está a mulher, muitas vezes imigrante, que não consegue sair da máquina de costura, tentando atingir uma renda mínima para sua família, ganhando centavos por peça confeccionada”, comenta a sócia consultora da Tewá, Luciana Sonck.
A representante da ONU Mulheres Brasil, Anastasia Divinskaya, avalia que as mulheres são as mais afetadas pela informalidade e pela carga da jornada dupla, quando também assumem as tarefas de cuidado. “Infelizmente, essa tem sido a realidade conhecida há décadas, agravada, ano após ano, com os comportamentos de consumo adotados pela sociedade”, aponta.
“O que buscamos com este estudo foi conhecer em mais detalhes as relações de trabalho na cadeia da moda, de que forma elas agravam as vulnerabilidades das mulheres refugiadas e migrantes no Brasil, além de gerar dados e evidências que possam subsidiar políticas públicas e mobilizar o setor privado e as autoridades para esse sistema que afeta a todas e todos nós”, completa. A ideia é que o diagnóstico contribua para a elaboração de um plano estratégico voltado ao empoderamento econômico das mulheres costureiras.
O UNOPS é parceiro do Ministério Público do Trabalho desde 2019, tendo já implementado uma série de projetos – que vão desde o fomento ao empreendedorismo entre grupos mais vulneráveis a ações de combate à COVID-19. “Nosso compromisso é o de fortalecer a ação institucional do MPT em todo o território e, ao mesmo tempo, impulsionar a promoção da igualdade de gênero, da diversidade e da inclusão. Este projeto, com resultados tão robustos, é um exemplo perfeito de como trabalhamos nesta parceria”, comenta a diretora e representante do UNOPS Brasil, Claudia Valenzuela.
Informações para imprensa:
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