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A ONU Mulheres é a organização das Nações Unidas dedicada à igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres.

Brasil

A atuação da mulher no campo impulsiona saberes gastronômicos



09.10.2018


Para mostrar que equidade de gênero e respeito são valores necessários cotidianamente, a Organização das Nações Unidas (ONU) decretou que 2018 seria o Ano da Mulher Rural

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Irmã caçula de uma família de seis filhos do escritor Gustavo Corção, Teresa Corção nasceu no Rio de Janeiro, em 1955. Formada em Programação Visual em Londres, mudou de carreira em 1981, ao juntar-se a uma das irmãs para coordenar a culinária do restaurante “O Navegador”, do qual é proprietária e chefe executiva.

Há 16 anos, Teresa Corção percebeu que seu trabalho como chefe de cozinha poderia ter uma grande influência na sobrevivência dos agricultores locais, bem como em seus produtos alimentícios. E assim, para nutrir a agricultura familiar orgânica ela fundou em 2007, o Instituto Maniva, Organização Não Governamental, pioneira em trabalhar a gastronomia como instrumento de transformação social.

A aproximação da agricultura familiar começou em 2002, quando entrou no movimento Slow Food, que prega o comer consciente de maneira prazerosa e com qualidade. A partir desse momento, a ecochefe percebeu que podia iniciar uma mudança no escopo do seu trabalho interessando-se pela influência socioambiental ligada ao mundo da alimentação.

Em 2004, Teresa viajou para a Amazônia, cidade de Bragança (PA), lugar onde conheceu Seu Bené e Dona Maria, que trabalham na produção de mandioca e são professores da farinha. A ecochefe resolveu fazer um filme-documentário sobre o modo de fazer farinha d´água. A partir desse encontro e dos resultados que vieram depois, Teresa percebeu que existia um potencial muito grande na parceria com a agricultura familiar.

A princípio não tinham recursos nenhum para fazerem o filme, mas mesmo sem condições fizeram o curta-metragem, o qual foi apresentado em uma palestra internacional realizada por Teresa. O filme-documentário foi mandado para o Seu Bené e para a prefeitura de Bragança, que começou a promover essa cultura da farinha que estava esquecida e desmoralizada, principalmente a cultura da embalagem do paneiro de farinha feito com as folhas e talos da planta de Guarimã, folha típica da Amazônia.

Teresa Corção começou a procurar outros chefes de cozinha para promover essa farinha d’água empaneirada, por considerar que era muito importante e que não podia deixar esse produto desaparecer. “Essa etapa foi muito difícil, pois muitos chefes de cozinha não tinham interesse em promover isso, e outros achavam o produto mais caro que o produto embalado em plástico”, conta.

Para preparar o produto de peneiro de farinha a pessoa tem que ter o conhecimento para tecer, forrar com as folhas e fechar o peneiro, um trabalho ancestral, o que torna o produto mais trabalhoso, mas preserva a sustentabilidade e a qualidade de vida.

Depois desse contato com a farinha d’água empaneirada, Teresa começou a pesquisar sobre a farinha de mandioca. A ecochefe viajou para o Sul do país, perto de Florianópolis, onde conheceu Dona Rosa, produtora de farinha de mandioca orgânica que começou a fornecer para o restaurante. E foi a partir desse momento que o restaurante de Teresa Corção passou a ter alguns alimentos vindos diretamente dos agricultores familiares. Começou com três tipos de farinha: farinha de Bragança, farinha de Santa Catarina e a farinha de Copioba da Bahia.

A ecochefe começou a visitar muitos agricultores familiares e notou que as mulheres rurais exerciam uma dupla jornada, pois eram esposas, agricultoras e donas de casa. “Notei que as mulheres do campo sabiam fazer toda a produção da agricultura e além dessa tarefa, muitas vezes, chegavam cansadas em casa por causa do trabalho na roça e tinham que trabalhar para o sustento da família, cozinhar e cuidar dos filhos”. Teresa Corção passou a admirar muito essas mulheres rurais. “Eu acho essas mulheres muito guerreiras, muito fortes, não é à toa que nas cooperativas e nas associações as mulheres vêm conquistando seu espaço, tomando a frente e organizando. Elas não fogem à luta, não tem medo das dificuldades nem do comprometimento com o trabalho”, declara.

O Navegador – A admiração pelo trabalho exercido pelas mulheres rurais foi o que impulsionou a continuidade do trabalho da ecochef, que decidiu seguir pelo caminho da sustentabilidade e da qualidade de vida das pessoas. Foi o alicerce que usou na formação do seu restaurante. “Fui andando e formando meu restaurante com um grande diferencial, porque eu faço questão de ter no Navegador vários produtos da agricultura familiar”, destaca.

Os ingredientes dos pratos do Navegador têm carinho, alma, história e muito sabor. Teresa escolhe pequenos produtores da agricultura familiar de vários estados do Brasil, não só porque estes produtos são feitos artesanalmente, mas também por reconhecer o valor da mulher rural e desta forma poder apoiar a economia do país, ajudando a preservar o meio ambiente e a diminuir o êxodo rural.

Hoje Teresa Corção faz parte do grupo dos ecochefes que fazem movimentos no Rio de Janeiro, e buscam cada vez mais apoiar a mulher do campo. Teresa conta que pelas visitas que faz às agricultoras ela sempre aprende algo novo e, que apesar das dificuldades, ela segue confiante em apoiar e promover a mulher rural. “A gente passa por dificuldade, muitas vezes não somos reconhecidas no meio da gastronomia, às vezes não percebem que isso é muito importante, não só como suporte para a agricultura familiar, mas como divulgação dos produtos da biodiversidade brasileira”, afirma.

Apesar de toda luta, Teresa vem colhendo os frutos do reconhecimento dos agricultores, além de gostar da simplicidade do campo. “Eu gosto muito do caminho da roça, acho que tem que promover muito o turismo rural”. Com isso, Teresa Corção reconhece o legado da mulher no campo. “A mulher rural é a força do campo, sem ela não teria agricultura familiar. ”

15 dias pela autonomia das mulheres rurais – Os papéis desempenhados pelas mulheres rurais são tão numerosos quanto suas lutas e vitórias. O que não faltam são histórias de vida inspiradoras. No entanto, ainda não possuem o reconhecimento merecido. Sofrem com o preconceito, com a desigualdade de gênero e com outros problemas que herdaram da vida. Ainda há um longo caminho para o equilíbrio de direitos e oportunidades entre homens e mulheres. A fim de mostrar que equidade de gênero e respeito são valores necessários cotidianamente, a Organização das Nações Unidas (ONU) decretou que 2018 seria o Ano da Mulher Rural.

Pensando nisso, a partir do primeiro dia do mês de outubro, iniciamos, no portal, uma série de matérias que fazem parte da Campanha Regional pela Plena Autonomia das Mulheres Rurais e Indígenas da América Latina e do Caribe – 2018. Serão 15 dias de ativismo em prol das trabalhadoras rurais que, de acordo com o censo demográfico mais recente, são responsáveis pela renda de 42,2% das famílias do campo no Brasil.

Gabriela Morais, estagiária sob supervisão da Assessoria de Comunicação
Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário
Contatos: (61) 2020-0120 e imprensa@mda.gov.br