Violência política atinge mulheres candidatas e eleitas e vulnerabiliza a democracia, dizem pesquisadoras
10.09.2018
Websérie documental #Brasil5050, da ONU Mulheres Brasil, revela anseios de especialistas, ativistas e parlamentares pela democracia paritária, incentivo às candidaturas de mulheres, responsabilidade de partidos políticos, alerta ao eleitorado brasileiro para voto consciente e caracterização da violência política
Playlist #Brasil5050 no canal do Youtube da ONU Mulheres Brasil
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O assassinato da vereadora Marielle Franco, ocorrido em março deste ano, trouxe à tona a violência política contra mulheres no exercício de autoridade pública. Nas eleições 2018, este é um tema observado por especialistas de gênero e ativistas feministas e do movimento de mulheres, que recuperam o ciclo de violência política sexista que cria obstáculos e, na sua forma extrema, a exclusão das mulheres na vida política.
Uma das estudiosas do tema é Flávia Biroli, professora e pesquisadora do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília, para quem a “violência política, que atinge as mulheres, é feita de agressão, assédio e dos estereótipos que acabam afirmando cotidianamente que as mulheres não pertencem ao espaço político”. Conforme Biroli, a intencionalidade sexista diferencia a violência política contra as mulheres da vivenciada pelos homens: “é a violência que procura manter as mulheres do lado de fora da política. É importante que a gente compreenda que a violência tem sido um fator para manter a política como um espaço masculino. Um espaço de homens”.
Além de falar sobre violência política contra as mulheres, para a pesquisadora, é necessário adotar medidas de apoio e proteção às mulheres. “Precisamos discutir a violência, porque precisamos proteger as nossas candidatas, as nossas mulheres na política e porque é preciso que o Estado brasileiro assuma a sua responsabilidade por garantir que mulheres que se engajavam na política tenham a sua integridade física e a sua integridade psíquica protegida”, sugere Flávia Biroli, que compõe o Grupo Assessor da Sociedade Civil Brasil da ONU Mulheres.
Creuza Oliveira, secretária-geral da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas e integrante do Grupo Assessor da Sociedade Civil Brasil da ONU Mulheres, também traz a sua contribuição para o debate público sobre violência política contra as mulheres. “A violência política é a gente não ter oportunidade em pé de igualdade com os demais candidatos e candidatas. Eu fui candidata por sete vezes. Uma candidatura de uma mulher negra, trabalhadora doméstica, que não tinha recursos nas campanhas. As campanhas eram solidárias, ou seja, pessoas que contribuíam o mínimo que podiam para a candidatura”.
Creuza reforça que a violência “é não ter igualdade de oportunidades para disputar com as demais candidatas e candidatos. É também violência quando não somos ouvidas para poder expressar e apresentar o nosso projeto e as nossas propostas. A gente não poder participar dos programas eleitorais, dos meios de comunicação. Isso é uma violência com uma candidatura que não tem as mesmas condições que a de outras candidatas e candidatos. Violência é tudo isso. É a falta de respeito. É a disputa desigual. É um monte de coisas que acontecem no processo eleitoral e dentro do próprio partido”.
A pesquisadora Marlise Matos, do Núcleo de Estudos e Pesquisas da Mulher da Universidade Federal de Minas Gerais, comenta que a violência política vem acontecendo em diferentes lugares no mundo. “Na medida em que as mulheres conseguem galgar estágios e etapas desse processo de representação política, aumentam as dinâmicas de violência aos quais elas estão submetidas desde a desqualificação moral, estereotipação, formas de brincadeira e piadinha. São formas veladas e sutis e, muitas vezes, violentas”, enumera.
Segundo a estudiosa, a violência política é um “fenômeno para controlar os corpos políticos e a atuação política das mulheres. Esse é um novo tipo de violência, e a gente precisa ter estratégias robustas para enfrentar esse novo tipo de violência contra as mulheres”, adiciona, Marlise Matos, que também faz parte do Grupo Assessor da Sociedade Civil Brasil da ONU Mulheres.
#Brasil5050: paridade de gênero na política – Parte das expectativas das mulheres brasileiras para as eleições 2018 e pela igualdade de gênero na política – especialistas em política, gênero, raça, parlamentares e ativistas – são o mote da websérie documental #Brasil5050 da ONU Mulheres Brasil, com cerca de 90 depoimentos que serão publicados nas redes sociais da ONU Mulheres Brasil e do projeto Cidade 50-50 até o final do ano. Os episódios revelam: anseio pela democracia paritária por meio de um #Brasil5050, incentivo às candidaturas de mulheres, responsabilidade de partidos políticos, alerta ao eleitorado brasileiro para voto consciente e caracterização da violência política.
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