Parte 1 – Da terra à voz: histórias de cinco mulheres indígenas que produzem conhecimento e lutam pelos direitos humanos
25.04.2023
A luta pelo direito à participação na vida pública e nas decisões que afetam suas comunidades, assim como a luta pelo direito a cultura, saúde, trabalho, terra, educação, alimentação e meio ambiente é uma constante na vida das mulheres indígenas. As histórias de muitas mulheres se entrelaçam e nos mostram a força de um grito coletivo, que constrói conhecimento como forma de resistência e empoderamento.
Inspirada na trajetória de cinco mulheres indígenas que fazem do trabalho uma ferramenta de construção do empoderamento coletivo, a série de matérias “Da terra à voz: histórias de cinco mulheres indígenas que produzem conhecimento e lutam pelos direitos humanos” retrata pessoas que costuram raízes e fazem da união entre cada uma delas um tecido de histórias e sabedorias coletivas.
Graça Graúna, do Povo Potiguara (RN)
“Entre os indígenas de várias partes do mundo, a palavra é um elemento sagrado. […] Palavra carregada de água, palavra vinda da terra, palavra aquecida pelo fogo, palavra tão necessária quanto o ar que se respira; palavra que atravessa o tempo”. Esse é um trecho do livro “Contrapontos da Literatura indígena contemporânea no Brasil”, da pós-doutora e escritora indígena Graça Graúna.
Por meio da fala de Graúna, conseguimos ver a força do tear de vozes das mulheres indígenas traduzidas em palavras sagradas.
Em entrevista à ONU Mulheres, Graça Graúna, que é filha do povo Potiguara (RN), traz a ancestralidade como um ponto de partida para cada momento da história. No mês dos povos indígenas, ela foi convidada para abrir o curso de pós-graduação em literatura da Universidade de Brasília (UnB). Graúna mostra a importância de ser mulher indígena e estar nesse espaço: “Para mim foi um grande desafio morar na cidade e me colocar na condição de mulher indígena dentro da universidade. A minha tese de doutorado foi a primeira no campo da literatura de autoria indígena, defendida na Universidade Federal de Pernambuco”.
Na condição de mulher indígena, mãe, avó, escritora, poeta e professora, ela afirma que o futuro também pode ser ancestral. “Acho que a ancestralidade é uma chave muito forte em nossas vidas, quando passamos a compreender a ancestralidade desde a infância, aprendemos a respeitar os ensinamentos. A ancestralidade é tão forte, tão vibrante e tão viva. Ela não está voltada apenas para os mais velhos, quando vemos uma criança brincando de descobrir o mundo, por exemplo, ela está cuidando da ancestralidade dela”, afirma a escritora.
Graúna conta que mesmo quando a circunstância nos leva para outro lugar, como para uma cidade grande, longe de onde chamamos de casa, devemos cultivar a memória que está enraizada no coletivo. “Eu sou fruto da cultura coletiva, do tecido de vozes, do tear da palavra e das tecituras da terra. Carrego dentro de mim muitas vozes, tenho muitas memórias”, conta.
Por meio da escrita, ela traz o sonho de brincadeira de infância. Lembra da força e das memórias das mulheres da família: da mãe, da tia, da avó. Rememora o cheiro de terra molhada, de quando se escondia nos jarros de pegar água da chuva, do feijão debulhado no canto de casa e das brincadeiras com panelinha de barro.
Em verso, Graúna diz:
“Ao escrever,
dou conta da ancestralidade;
do caminho de volta,
do meu lugar no mundo”
Por Íris Cruz, consultora da ONU Mulheres Brasil