ONU Mulheres participa do Encontro Nacional de Mulheres Negras 30 anos
18.12.2018
Com a presença de 1.000 ativistas negras brasileiras, encontro reuniu, em Goiânia, convidadas internacionais da Colômbia, Uruguai e Estados Unidos. Entre estas, estava Angela Davis, ícone do feminismo negro. Encontro teve a representação de coordenadoras estaduais e nacionais do encontro, quilombolas, religiosas de matriz africana, juventude, parlamentares e parceriais institucionais
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Mais de mil mulheres negras, vindas de diferentes estados brasileiros e convidadas internacionais da Colômbia, Estados Unidos e Uruguai, participaram do Encontro Nacional de Mulheres Negras 30 Anos: contra o Racismo e a Violência e pelo Bem Viver – Mulheres Negras Movem o Brasil. O encontro aconteceu entre 6 e 9 de dezembro, no Centro de Convenções da PUC Goiás, em Goiânia, por realização do movimento de mulheres negras, com parceria da ONU Mulheres, Fundo Elas e Ministério Público do Trabalho e apoio do CESE, do UNFPA e da Embaixada do Reino Unido.
Antes mesmo da saudação da mesa de abertura, vozes de ativistas na plateia reconstituíram nomes icônicos do movimento de mulheres negras brasileiras. Entre elas: Beatriz Nascimento, Lélia Gonzalez, Luiza Bairros, Mãe Beata de Iemanjá à vereadora assassinada Marielle Franco.
Na abertura, a diretora regional da ONU Mulheres para Américas e Caribe, Luiza Carvalho, reforçou o compromisso da entidade com as mulheres negras, os direitos humanos e o enfrentamento do racismo. “É tempo de amplificar as vozes das mulheres na direção da realização dos seus direitos humanos. É tempo de fortalecer a autonomia de ativistas e engajar a humanidade para a eliminação do machismo, do racismo e outras formas de opressão na vida de mulheres e meninas em todo o mundo”, salientou Carvalho.
A ONU Mulheres foi uma das parcerias do Encontro Nacional de Mulheres Negras 30 Anos por demanda do movimento de mulheres negras por meio do Comitê Mulheres Negras Rumo a um Planeta 50-50 em 2030, inserida num processo de articulação de um encontro global de mulheres negras, em 2020, por ocasião dos 25 anos da Plataforma de Ação de Pequim. Durante o encontro nacional, a ONU Mulheres promoveu as oficinas Mulheres Negras: Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e Década Internacional de Afrodescendentes para lideranças estaduais e nacionais, com cerca de 35 participantes, e outra para ciberativistas e comunicadoras negras, reunindo 13 participantes. Estas atividades tiveram o apoio da Embaixada do Reino dos Países Baixos.
Angela Davis, professora emérita do Departamento de Estudos Feministas da Universidade da Califórnia, demonstrou as particularidades do movimento de mulheres negras brasileiras. “Eu acredito que esse movimento de mulheres negras contra o racismo, contra a violência e pelo bem viver representa o melhor futuro para o Brasil. quando as mulheres negras se movem, o mundo se move conosco”, salientou. Davis conclamou as atividades para “buscar libertar a nossa imaginação para as questões que precisam ser respondidas: que não são apenas questões para acabar com o racismo, o sexismo e a exploração econômica nas nossas sociedades, mas sim qual o tipo de sociedade não mais toleraria a violência sistemática contra humanos, animais e o nosso meio ambiente?”, indagou.
30 anos de ativismo – Integrante da coordenação executiva do I Encontro Nacional de Mulheres Negras, Wânia Santanna resgatou a movimentação de 30 anos atrás. “Naquela cidade de Valença, em 1988, podíamos imaginar muitas coisas sobre o futuro. Mas esse coletivo, refletido pela potente e extensa representação do movimento de mulheres negras em todo o país, parece algo bem maior do que os nossos sonhos naquela época”, afirmou.
Vanda Menezes, da Coordenação Nacional dos Estados para o Encontro Nacional de Mulheres Negras 30 Anos, recuperou os nove meses de preparação do evento a partir de plenária do Fórum Permanente de Mulheres Negras, ocorrida no Fórum Social Mundial, em março deste ano. “Eu quero dizer o quanto foi importante estarmos no Fórum Social Mundial. Foi lá que nós decidimos que faríamos uma avaliação do Brasil e da América Latina desses 30 anos das nossas conquistas, dos nossos passos”, disse.
Sujeitas plurais – Selma Dealdina, da Coordenação Nacional de Quilombos (Conaq), falou “em nome das mulheres do campo, das águas e das florestas”, salientando que “na construção desse encontro foi de suma importância a inclusão da pauta das mulheres rurais para participarem desse momento histórico para nós que não estivemos no 1º Encontro, há 30 anos atrás”. Ressaltou que “quem segura a ponta da luta é a base. Se os estados não estiverem organizados, não tem como organizar um encontro nacional. Foram momentos intensos, mas também momentos importantes de reflexão e de formação política”, avaliou.
Representando as jovens negras, Bianca Pereira, mencionou nomes históricos do ativismo das mulheres negras brasileiras e sinalizou que os passos da mobilização precisam ser dados “nos fortalecendo e nos cuidando para que a gente consiga manter a caminhada pelos próximos 30 anos”.
A transexual Neon Cunha salientou a “parceria entre mulheres negras e mulheres trans”, prestando homenagem às “mulheres negras encarceradas em presídios femininos e masculinos”. Para ela, “num contexto de diversidade de orientação sexual e de identidade de gênero, o caminhar das mulheres negras é na direção da revolução”.
Sujeitas pioneiras – A escritora Conceição Evaristo falou sobre os embates entre sujeitas, língua e linguagem no processo de afirmação da identidade negra. “Nós estamos aqui porque falamos como personagens em encontro. Uma fala que conscientemente fere as normas da língua oficial Portuguesa, porque somos capazes de dar o corpo a toda a opressão que recai sobre nós. Fere porque as nossas ancestrais procuraram práticas de defesa desde os negreiros. Fere porque a gente construiu os quilombos”. Emocionada, a escritora mencionou a influência de Angela Davis na sua formação literária.
A deputada federal Benedita da Silva resgatou as principais frentes de atuação das mulheres negras por direitos, ressaltando o respeito às religiões de matriz africana. “Quero saudar as mulheres negras por esses 30 anos. Nossos passos vêm de muito longe. Estou feliz por ver tanta juventude. Conceição (Evaristo) e Angela Davis devem estar com essa emoção de ver essa multidão de mulheres negras, que, há 30 anos atrás, eram desacreditadas e que trabalharam a possibilidade de a gente atuar e estar aqui hoje”, frisou.
A mesa de abertura foi composta, ainda, por Ieda Leal, representante da Coordenação Executiva Nacional do encontro; Dulce Pereira, Comissão Organizadora; Iyá Sandra Lee, da Rede Nacional de Religiões Afro-brasileiras e Saúde (Renafro); deputada estadual Cristina Almeida; Savana Brito, Fundo Elas de Investimento Social; Valdirene Assis, Ministério Público do Trabalho; Márcia Alencar, vice-reitora da PUC Goiás; e Anielle Franco, irmã da vereadora Marielle Franco.