“O preço do imobilismo é inaceitável”, diz diretora executiva da ONU Mulheres nos 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres
25.11.2016
“O preço do imobilismo é inaceitável” Phumzile Mlambo-Ngcuka, Diretora Executiva da ONU Mulheres
Acreditamos em um mundo no qual as mulheres e meninas possam se realizar e prosperar em paz e do mesmo modo que os homens e meninos, compartilhando, beneficiando-se de sociedades que valorizam suas habilidades e aceitam sua liderança. E esse é o que tentamos conseguir com nosso trabalho. A violência contra mulheres e meninas tem consequências devastadoras para todas as pessoas e para a sociedade.
As mulheres e as meninas que são vítimas de violência perdem sua dignidade, vivem com medo e dor, e, nos casos mais extremos, pagam com sua vida. A violência cerceia sobremaneira as liberdades que todas e todos deveríamos desfrutar: o direito a nos sentirmos seguras e seguros em casa, o direito a caminhar com segurança pelas ruas, o direito à escolaridade, o direito ao trabalho, o direito de acessar o Estado, o direito de ir ao cinema. Deveríamos poder esperar que todos os agressores fossem devidamente responsabilizados, que se fizesse justiça e que recebêssemos cuidados e apoio pela violência sofrida. Mas ainda são muitos os países onde as leis não são adequadas, onde as polícias não têm interesse em coibir essas violências, onde não há acolhimento disponível, cuidados de saúde ou apoio, e onde o sistema de justiça penal está longe dificultando o acesso, é caro, sua atuação é parcial em favor de homens agressores e contra mulheres. Se mudar todos esses elementos tem um custo, o preço do imobilismo é inaceitável.
Todas as especialistas e todos os especialistas têm a mesma opinião sobre o fato de que os benefícios de se por fim à violência contra mulheres e meninas excedem os investimentos necessários. Sabemos que esses investimentos, se oportunos e bem dirigidos, ainda que sejam em pequena escala, podem aportar benefícios enormes para as mulheres e as meninas, assim como para suas comunidades em geral. Por exemplo, no Timor-Leste, colocaram à frente um pequeno, mas eficaz programa de três anos para proporcionar um pacote de serviços essenciais para mulheres vítimas de violência. O custo do programa era de menos de 1% do PIB, mas tinha um impacto significativo na saúde e no bem-estar das mulheres. Algumas mudanças práticas realizadas nas infraestruturas dos mercados laborais, da capacitação empresarial e da instauração de formas de pagamento que não necessitavam de dinheiro em espécie transformaram a situação, as perspectivas e a confiança de mulheres que atuavam no comércio local nos mercados da Papua Nova Guiné. Em Uganda, um programa comunitário reuniu mulheres e homens, líderes comunitários e religiosos para mudar normas sociais, o que acabou se traduzindo em uma redução de 52% da violência praticada por companheiros ou cônjuges.
Estes avanços trazem à tona métodos práticos que nos permitem avançar. Podemos realizar grandes progressos no tratamento dos problemas de desigualdade e dos preconceitos existentes e subjacentes às nossas próprias sociedades, que permitem e incitam a violência contra mulheres e meninas. Podemos aumentar as ações para prevenção e ampliar os serviços adequados. Podemos fazer com que a curva tenda a baixar e ponhamos fim a um vício que perpetua a violência contra mulheres e meninas. Dessa forma, adotamos um compromisso e realizamos investimentos, tanto em escala nacional como internacional.
A violência está tão arraigada na sociedade, que sua eliminação é uma tarefa que compete a toda a sociedade. Mudar a cultura também nos leva a contar com a participação de aliados como os homens, os meninos, os grupos religiosos, os jovens e as jovens, usando canais como o esporte, a arte, a atividade empresarial, o mundo acadêmico e a fé para nos conectar com esses aliados e convencê-los.
A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável nos fornece ferramentas com as quais podemos alcançar tudo isso. Seus ambiciosos objetivos precisam de soluções inovadoras e novas alianças para mobilizar recursos procedentes, inclusive, de outros governos nacionais, da assistência internacional para o desenvolvimento, de empresas privadas, e de entidades filantrópicas e de indivíduos. Hoje, no dia internacional da eliminação da violência contra a mulher, rememoramos essa agenda universal acordada por todos os países, e assim reconhecemos a relação intrínseca entre os avanços em todas essas frentes e nosso compromisso em alcançá-los.