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A ONU Mulheres é a organização das Nações Unidas dedicada à igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres.

Brasil

No Brasil, meninas desenvolvem autoestima e independência pelo esporte



09.08.2016


No Brasil, meninas desenvolvem autoestima e independência pelo esporte/

Adrielle Alexandre pratica balé no programa Uma Vitória Leva à Outra
Foto: UNIC Rio

O que significa ser uma pessoa vitoriosa? Para Adrielle Alexandre, de 12 anos, que carregou a Tocha Olímpica, não significa apenas se tornar uma ginasta, mas transformar sua comunidade em um lugar livre de violência, onde as pessoas saibam respeitar umas às outras. Ela está entre as 400 meninas participantes de um programa no Rio de Janeiro que usa o esporte para criar espaços seguros onde elas consigam se tornar mulheres empoderadas.
“Eu aprendi com o esporte que precisamos nos esforçar para conquistar as coisas. Não chegamos a lugar algum se ficarmos no mesmo lugar sem fazer nada” diz Adrielle Alexandre, de 12 anos, atleta e moradora do Rio de Janeiro.

Quatro vezes por semana, depois da escola, Adrielle vai a uma Vila Olímpica no bairro de Campo Grande – um dos 22 espaços municipais que oferecem estrutura desportiva gratuita – ter aulas de ballet, ginástica rítmica e pilates. Adrielle é uma das 400 meninas entre 10 e 14 anos que fazem parte do Uma Vitória Leva à Outra, programa conjunto entre ONU Mulheres e Comitê Olímpico Internacional (COI), em parceria com a ONG Women Win e o Comitê Olímpico Brasileiro (COB), com o apoio da Loteria Sueca. Duas vezes por semana, depois do treino, Adrielle frequenta oficinas temáticas supervisionadas por uma equipe multidisciplinar de pedagogas, assistentes sociais e psicólogas, para aprender sobre liderança e autoestima, saúde e direitos sexuais e reprodutivos, violência contra meninas e mulheres e como se planejar financeiramente para o futuro. O programa pretende alcançar 2.500 meninas até o início de 2017 e já está ativo em quase 20 Vilas Olímpicas no Rio de Janeiro.

Quase 50% das agressões sexuais em todo o mundo são sofridas por meninas de até 16 anos de idade. Quando atingem a puberdade, as adolescentes são marginalizadas e hipersexualizadas pela sociedade. Durante esse período, a maneira como elas enxergam o próprio corpo passa a ser dominada por estereótipos negativos, fazendo com que a autoestima feminina caia duas vezes mais do que a masculina. Ao longo da adolescência, 49% das meninas desistem da prática esportiva – proporção 6 vezes maior de que a observadas entre meninos.

O Uma Vitória Leva à Outra usa o esporte como um meio poderoso para reduzir a desigualdade de gênero e dar às meninas ferramentas para construírem habilidades de vida e autoestima. Criar espaços seguros onde elas possam se desenvolver é um primeiro e crucial passo para engajá-las do programa. Nadine Gasman, Representante da ONU Mulheres no Brasil, explica que “o esporte melhora a autoestima, ensina a trabalhar em equipe e a estabelecer metas e objetivos na vida. Isso, combinado com espaços aonde elas se sintam seguras, as incentiva e crescer e se desenvolver cada dia mais”.
Carismática e talentosa, Adrielle Alexandre chama atenção por onde passa. Ela, em meio a tantas outras meninas, foi escolhida para carregar a Tocha Olímpica durante o revezamento deste ano. Myriam Fernandes, avó de Adrielle, é uma de suas maiores fãs. “Nó sacrificamos muito para mantê-la no esporte. Ser atleta, no Brasil, não é fácil, principalmente para quem é pobre. É por isso que nos orgulhamos tanto de tudo que ela faz. Sinto uma gratidão enorme por todas as oportunidades que ela vem recebendo”, conta a avó, orgulhosa.

Adrielle percebe os desafios e sacrifícios que ela e a família enfrentam para que continue na ginástica rítmica. “Muitas vezes preciso abrir mão de brinquedos para economizar dinheiro para comprar roupas de apresentação, pagar taxas de festivais e competições. Às vezes eu preciso deixar de fazer o que outras meninas da minha idade fazem para continuar no esporte, mas isso nunca me deixou triste. É o que eu gosto de fazer e é muito divertido”
Para Elizabeth Jatobá, facilitadora do programa, “a parte mais importante é dar a essas meninas um espaço seguro onde a voz delas possa ser ouvida. Aqui elas podem expressar o que sentem – nós as ajudamos a comunicar o que pensam, o que vivem e o que querem para a vida delas”.

Uma lição que Adrielle aprendeu com o Uma Vitória Leva à Outra é o real significado de ser uma vencedora, tanto no esporte quanto na vida: “Ser uma pessoa vitoriosa é fazer com que os seus sonhos virem realidade, ajudar os outros e se esforçar para construir uma sociedade livre de violência e onde as pessoas saibam respeitar umas às outras”.