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A ONU Mulheres é a organização das Nações Unidas dedicada à igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres.

Brasil

Mulheres negras do Nordeste são maioria entre as pessoas em vulnerabilidade e buscam inclusão nos ODS



26.12.2017


Rodas de Diálogo “Mulheres Negras Rumo a um Planeta 50-50: O que queremos em 2030?”, articulada pela Rede de Mulheres Negras do Nordeste, iniciam debates sobre a priorização das afro-brasileiras na resposta do país aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

Mulheres negras do Nordeste são maioria entre as pessoas em vulnerabilidade e buscam inclusão nos ODS/planeta 50 50 onu mulheres noticias decada afro

Marcha das Mulheres Negras contra o Racismo e a Violência e pelo Bem Viver, realizada em 2015, reivindicou novo pacto civilizatório no Brasil focado na eliminação do racismo e do sexismo | Foto: PNUD/Tiago Zenero

 

Cerca de 75% da população do Nordeste do Brasil é negra; 43,4% dos nordestinos e nordestinas estão em situação de pobreza; e 13% têm renda inferior a US$ 2 dólares por dia. Estes dados são reveladores da situação de exclusão e vulnerabilidade discutidos nas Rodas de Diálogo “Mulheres Negras Rumo a um Planeta 50-50: O que queremos em 2030?”, organizadas pela Rede de Mulheres Negras do Nordeste com o apoio da ONU Mulheres Brasil e de Comitê Mulheres Negras Rumo a um Planeta 50-50 em 2030. Os encontros aconteceram em Salvador, Maceió e Recife entre 5 e 15 de dezembro.

“Os estudos estão revelando um quadro mais preciso da vulnerabilidade e dimensionam a violação de direitos das mulheres negras. E isso chama à urgência de medidas concretas para colocar as mulheres negras no centro das prioridades políticas, dos investimentos públicos e das ações para a eliminação do racismo e das desigualdades de gênero. Não há desenvolvimento possível para o Brasil enquanto as mulheres negras continuarem como grupo que tem ficado para trás no acesso a direitos, condições decentes de sobrevivência e tomada de decisão”, afirma Nadine Gasman, representante da ONU Mulheres Brasil.

Violência racial, sexista e geracional – Dois levantamentos recentes evidenciam a situação da vulnerabilidade das mulheres negras nordestinas. De acordo com o Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência, a possibilidade de uma mulher negra nordestina, entre 15 e 29 anos, ser vítima de assassinato é quatro vezes maior em relação às brancas – quase o dobro da média nacional. No Rio Grande do Norte, elas têm oito vezes mais chances de serem vítimas fatais da violência.

Conforme a Pesquisa Condições Socioeconômicas e Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, entre as mulheres que sofrem agressões físicas durante alguma gestação ao longo da vida (6% no universo de 10 mil mulheres), 77% são mulheres negras. Além disso, 24% das mulheres negras vivenciaram a ocorrência de violência doméstica contra as suas mães, enquanto a mesma situação foi vivenciada por 19% das mulheres brancas no Nordeste.

Debates entre mulheres negras – As rodas de diálogo “Mulheres Negras Rumo a um Planeta 50-50: O que queremos em 2030?” iniciam um processo de mobilização das mulheres negras, fazendo a conexão entre os grandes desafios mundiais e a sua implementação no nível local. “A partir da roda de diálogo, estamos reforçando as nossas estratégias de incidência e reafirmamos que não é possível pensar em desenvolvimento com a morte cotidiana de jovens negros, mulheres negras e homens negros”, considera Valdecir Nascimento, coordenadora executiva da AMNB (Articulação de ONGs de Mulheres Negras Brasileiras) e integrante do Comitê Mulheres Negras Rumo a um Planeta 50-50 em 2030, vinculado à ONU Mulheres Brasil.

“O grupo está focado em produzir conceitos capazes de colocar as mulheres negras no centro do debate”, disse Valdecir, que também responde pela coordenação do Instituto Odara, responsável pela realização dos debates na capital baiana, em 5 de dezembro.

Onde estão as mulheres negras? (TV Brasil)

Localização dos ODS com foco em gênero e raça – Em Maceió, a Roda de Diálogos ocorreu em 6 de dezembro e reuniu representantes de entidades sindicais, comunidades de terreiro, acadêmicas, militantes da área da educação, saúde, jovens comunicadoras e governo municipal. “Ainda que os ODS sejam uma agenda global, tudo acontece no município. Então, é preciso provocá-los”, destacou Vanda Menezes, da Rede de Mulheres Negras do Nordeste.

Vanda conta que outro encontro está agendado para janeiro de 2018, quando as ativistas irão traçar uma “estratégia local para mulheres negras, conectada aos ODS e à Década Internacional de Afrodescendentes para ser apresentada ao município”.

Em Recife, a Roda de Diálogo “Mulheres Negras Rumo a um Planeta 50-50: O que queremos em 2030?” aconteceu no SINTEPE (Sindicato dos Professores do Estado de Pernambuco). Participaram: professoras universitárias, psicólogas, militantes de comunidades e dos coletivos de juventude negra. Segundo Mônica Oliveira, integrante da Rede de Mulheres do Nordeste e do Grupo de Apoio da Sociedade Civil da ONU Mulheres (GASC), um dos desafios é  “tornar os ODS mais próximos ao cotidiano das mulheres negras”. Entre os encaminhamentos, está a realização de novo encontro, no mês de janeiro de 2018, para ampliar a mobilização e convidar outros setores e segmentos para recolocar a discussão, inclusive no Fórum Social Mundial.

Mulheres negras nos ODS –  A localização da plataforma de ação do Manifesto da Marcha das Mulheres Negras contra o Racismo, a Violência e pelo Bem Viver nos ODS subsidiam os diálogos tanto para reforçar os resultados da Marcha, quanto para reposicionar a atuação do movimento de mulheres negras com relação aos marcos internacionais.

A ONU Mulheres foi uma das apoiadoras da Marcha das Mulheres Negras, ocorrida em 2015. Na ocasião, a secretária-geral adjunta da ONU e diretora executiva da ONU Mulheres, Phumzile Mlambo-Ngcuka, ressaltou os laços entre as mulheres negras na África e na diáspora.  “A luta de vocês é a nossa luta. E a luta da ONU Mulheres é a luta de vocês. Estamos aqui, no Brasil, para dizer que temos de pôr fim à violência contra as mulheres. Também estamos aqui para dizer fim ao racismo. Vamos em frente com o bem viver”, declarou.

Dois anos depois, a ONU Mulheres desenvolve a estratégia de comunicação e advocacy político Mulheres Negras Rumo a um Planeta 50-50 em 2030, com a finalidade de mobilizar a visibilização e incorporação das perspectivas de  gênero e raça – com especial foco nas mulheres negras – na agenda governamental, intergovernamental e na opinião pública sobre desenvolvimento sustentável. “A ONU Mulheres está articulando ações para colocar as mulheres negras no centro da mobilização pelo desenvolvimento sustentável no Brasil e posicionando-as como agentes e público fundamentais para alcançar um Planeta 50-50, com paridade de gênero,  avançando na eliminação do racismo como estabelece a Década Internacional de Afrodescendentes. O nosso trabalho é inserir as mulheres em situação de maior vulnerabilidade, entre as quais se encontram as mulheres negras, nas principais agendas das Nações Unidas. E isso precisa ser feito o tempo todo para um processo de transformação inclusivo diário e que tenha efeitos robustos até 2030”, completa Gasman.

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Equipes global, regional e nacional da ONU Mulheres marcharam com as mulheres negras, em Brasília, em ato que reuniu 50 mil participantes no ano de 2015 | Foto: ONU Mulheres/Bruno Spada

 

As Rodas de Diálogo acontecem no âmbito da estratégia de comunicação e advocacy político Mulheres Negras Rumo a Um Planeta 50-50 em 2030, desenvolvida pela ONU Mulheres em diálogo participativo  com o movimento de mulheres negras brasileiras, desde março de 2017, por meio de comitê integrado por: Articulação de ONGs de Mulheres Negras Brasileiras (AMNB), Agentes da Pastoral Negra (APNs), Coordenação Nacional de Quilombos (Conaq), Federação Nacional de Trabalhadoras Domésticas (Fenatrad), Fórum Nacional de Mulheres Negras, Movimento Negro Unificado (MNU), Negras Jovens Feministas e integrantes negras do Grupo Assessor da Sociedade Civil Brasil da ONU Mulheres (GASC).