Mulheres apoiam mulheres a romper o ciclo da violência de gênero, revela campanha da ONU nos 16 Dias de Ativismo
18.12.2017
Sob o lema “Não deixar ninguém para trás: acabar com a violência contra as mulheres”, a campanha da ONU para os 16 Dias de Ativismo se baseou na Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável e destacou o protagonismo das mulheres para o fim da violência
Assista aos vídeos: Arlanza Rebello | Mãe Lúcia | Mãe Nilce
Coletivos. Terreiro. Defensoria Pública. Estas são três das redes destacadas nos depoimentos de três mulheres que ocupam espaços estratégicos para acolhimento e apoio às vítimas da violência de gênero. Os relatos foram registrados pela campanha do Secretário-Geral da ONU UNA-SE pelo Fim da Violência contra as Mulheres, com produção da ONU Mulheres e do Centro de Informação Pública (UNIC Rio) e apoio do Comitê Mulheres Negras Rumo a um Planeta 50-50 em 2030 e da ONG Criola.
De acordo com a representante da ONU Mulheres Brasil, Nadine Gasman, as redes são fundamentais para tirar as mulheres em situação de violência do isolamento e do silêncio. “Saber que não estão sozinhas e poder contar com alguém próximo são sinais importantes para o encorajamento de mulheres que estão sendo alvo da violência de gênero. Pode ser o passo decisivo para que elas quebrem o ciclo da violência e procurem serviços públicos de atenção a mulheres em situação de violência. Essas ações são difíceis, mas são amenizadas quando se tem alguém ou um grupo ao lado”, afirma Nadine Gasman.
Sob o lema “Não deixar ninguém para trás: acabar com a violência contra as mulheres”, a campanha da ONU para os 16 Dias de Ativismo se baseou nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, sobretudo o número 5 relacionado à igualdade de gênero, e destacou o protagonismo das mulheres para o fim da violência e a mobilização de grupos vulneráveis. No Brasil, os vídeos contam o trabalho da Defensoria Pública do Rio de Janeiro, comunidade de terreiro e coletivo. Foram postados nas redes sociais no Dia Internacional dos Direitos Humanos, celebrado em 10 de dezembro.
Serviços essenciais – A defensora pública Arlanza Rebello considera que os serviços especializados para mulheres em situação de violência devem responder à demanda por meio do enfrentamento ao sexismo institucional. “A importância de uma instituição ter um olhar sobre as questões de gênero e específicas da mulher faz com que a gente possa utilizar a legislação de uma maneira mais ampla, mais criativa e mais específica. Por meio do discurso de proteção à mulher busca-se sempre a punição do agressor”, salienta.
Conforme a Lei Maria da Penha (Lei n 11.340/2006), a assistência judiciária deve ser garantida por defensoria pública ou assistência judiciária gratuita com atendimento específico e humanizado. À frente do Núcleo Especial de Direito da Mulher e de Vítimas de Violência da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, Arlanza Rebello assinala o que aprendeu com as mulheres. “No trabalho com as mulheres, nós aprendemos a fazer uma outra leitura. Quando lidamos com uma mulher em situação de violência, nós estamos lidando com a vida. São os grupos de mulheres que vão dar a essa mulher a dimensão da violência em que ela está inserida para que ela possa buscar outros caminhos”, acrescenta.
Na Baixada Fluminense, Mãe Nilce de Oxum, do Ilê Omolu Oxum, conta que o “terreiro é procurado por mulheres com várias demandas. E a violência doméstica é uma delas. Nós somos de uma tradição matriarcal. A maioria são mulheres e negras. Nós fazemos oficinas para que essas mulheres consigam renda”.
Um dos casos relatados por Mãe Nilce é sobre as oficinas realizadas pelo terreiro, localizado em Nova Iguaçu, e o drama de uma das participantes. “Tinha uma mulher que a mãe cuidava dos filhos dela. Ela fazia curso aqui com a gente. Uma dia ela me chamou e disse que queria se matar. A mãe (avó) não permitia que os filhos dela (vítima) abrissem a geladeira para pegar água. Dizia: ‘a sua mãe não bota nada aqui, então não vai abrir’. Então começamos a doar material, alimentos. Ela começou a aprender a fazer ímã de geladeira. Não ficou rica com isso, mas começou a ganhar um dinheirinho e ajudar a mãe. Foi um ganho que nós tivemos: livrar uma mulher negra de se suicidar por conta disso”.
Incidência política – Mãe Lúcia, fundadora do Grupo de Mulheres Yepondá, contou a história do grupo – da sua formação heterogênea à intervenção em espaços políticos. “Nós temos mulheres evangélicas, católicas, umbandistas, sem religião. Lésbicas. Brancas, negras. Mas por tudo que as mulheres negras sofrem que é bem maior do que as mulheres brancas sofrem, o grupo, aos poucos, foi se tornando um grupo de mulheres negras. Elas estão resistindo e mudando a sua história. Elas estão no Fórum de DST/Aids da cidade, no Fórum de Mulheres Negras”, disse.
Sobre a violência contra as mulheres, Mãe Lúcia reforça o envolvimento do grupo. “O nosso objetivo é combater a intolerância. É combater, principalmente, a violência contra a mulher. Quando nós conseguimos nos defender, fazer um elo forte, de verdade, a gente freia alguém”, completa.