Lideranças avaliam como a igualdade de gênero é tratada em suas empresas
04.05.2017
Empresas signatárias também falaram sobre o que estão fazendo para promover a igualdade de gêneros internamente e entre seus clientes e parceiros
Do Pacto Global
Durante o Fórum WEPs, promovido pela Rede Brasil do Pacto Global e a ONU Mulheres no dia 20 de abril no Insper, em São Paulo, líderes de grandes empresas signatárias também falaram sobre o que estão fazendo para promover a igualdade de gêneros internamente e entre seus clientes e parceiros. No palco, seis deles, sendo apenas dois homens, como comemorou Nadine Gasman, representante do ONU Mulheres Brasil. “Ainda estamos em dívida porque não temos nenhuma mulher negra neste palco, mas estamos trabalhando e tenho certeza de que vamos mudar isso também”, projetou.
O primeiro a falar foi Henrique Braun, Presidente da Coca-Cola Brasil (foto abaixo), que lembrou do compromisso assinado em 2010 de empoderar cinco milhões de mulheres em dez anos. Na época, firmou uma parceria com a ONU Mulheres no Brasil e na África do Sul. “Diversidade é um tema que não pode ser visto pelas grandes corporações somente como um target”, disse o CEO. “Precisa ser visto como algo estratégico, com vantagem competitiva e voltado para o indivíduo”. Segundo ele, a empresa já estava presente em 207 países, o que denota algum envolvimento com a causa. No entanto, faltavam outras lentes que permitissem a ela ser tão diversa quanta a sociedade na qual está inserida. “Tivemos que destrinchar metas por país, e cada organização pôde expor como chegaria ao objetivo comum”, contou.
Única companhia a ter todas as suas empresas na América do Sul como signatária dos WEPs – os Princípios de Empoderamento Feminino (e a única a assumir publicamente o compromisso de acabar com a desigualdade salarial interna), a Schneider foi representada pela presidente para a América do Sul Tania Consentino. “Nós somos responsáveis por garantir a sustentabilidade e a perenidade das nossas empresas, e a diversidade vai nos ajudar nisso”, disse. “Nossa empresa tem seu business alavancado nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. No nosso core business, ou seja, acesso universal à água e à energia, a gente entrega respostas para pelo menos 9 dos 17 ODS”. Ela ressaltou também que tudo é medido e informado internamente, o que também influencia fornecedores.
No Grupo Boticário, a primeira franquia foi idealizada por uma mulher, sendo que 85% delas têm hoje uma mulher no comando. Para Lia Azevedo, vice-presidente da empresa (foto à direita), o empoderamento feminino está no DNA da marca. Mas isso não era suficiente. “A gente não queria que essa percepção fosse intuitiva, pois isso não traz evolução”, analisa. Antes de assinar os WEPs, a opção foi fazer uma medição criteriosa, utilizando os Princípios para saber em que
patamar a empresa se encontrava, realizando um monitoramento trimestral, o que levou a uma série de processos internos, revisão de benefícios, inclusão de treinamentos, análise de campanha e, principalmente, a criação de um novo modelo de lideranças. “Hoje, nossos gestores são avaliados pela capacidade deles de promover a valorização das diferenças dentro da empresa”, comentou.
Diretora executiva da Maurício de Sousa Produções, Mônica Sousa (foto abaixo) inicialmente cativou a plateia por ter servido de inspiração para seu pai criar a Mônica dos quadrinhos, há 54 anos. “Ele dizia que eu era brava, mas não lembro disso, não”, brincou. Em seguida, contou que a personagem não era a principal quando surgiu. Mas já tinha um caráter forte e empoderador, conquistando o protagonismo da turma. Embaixadora do Unicef, a empresária percebeu que esse carisma podia ser usado para melhorar a autoestima das pequenas leitoras. “Criamos o projeto ‘Donas da Rua’ para dizer que elas podem ser o que quiserem, independente dos estereótipos do que é ser uma menina”, contou. A preocupação com o conteúdo das histórias atingiu não apenas os gibis, como os desenhos animados. Parceiro da ONU Mulheres, o estúdio da Turma da Mônica realiza hoje diversas ações nessa área com cerca de 150 empresas.
Em seguida, Walter Malieni Junior, vice-Presidente de distribuição de varejo e gestão de pessoas do Banco do Brasil, explicou como uma instituição de duzentos anos e um olhar mais conservador mudou sua mentalidade a partir de 2010, quando se comprometeu com os WEPs. “Com quase cinco mil agências, a gente tem a capacidade de conversar com cada rincão do país”, lembrou. “Nos últimos três anos, o banco vem criando ações afirmativas muito sérias para permitir a ascensão vertical, em especial, à alta gerência”. Ele abriu um parêntese para apontar que, por ser uma estatal e de capital misto, a empresa obedece a regras diferentes de contratação por concurso. “Esse nosso empenho tem o objetivo de tornar a equidade algo normal em nossa empresa e, consequentemente, influenciar a sociedade brasileira”, disse.
Contribuição do setor público – Representando o setor público, a secretária Especial de Políticas para as Mulheres, Fátima Pelaes (foto abaixo), se comprometeu a reforçar leis de defesa da mulher, a exemplo da Maria da Penha e a do feminicídio, além de programas como o Mulher, Viver sem Violência. “Nosso papel é promoção da igualdade e enfrentamento da violência, mas só podemos fazer isso se tivermos mulheres empoderadas”, declarou. “Por isso a importância da iniciativa privada, que é onde temos o maior número de empregos”. Ela anunciou que o programa Rede Brasil Mulher vai promover a parceria entre governo e sociedade civil, reunindo as ações que já existem e estimulando outras, visando a igualdade entre homens e mulheres.
Durante a manhã, o público se dividiu em sessões paralelas que traziam mais exemplos práticos de empoderamento de mulheres em empresas e instituições de perfis variados. Como exemplo de primeira funcionária de carreira da Itaipu Binacional a chegar à diretoria, Margaret Groff, hoje diretora financeira da empresa, falou, como uma das idealizadoras do Prêmio WEPs Brasil, sobre como influenciar fornecedores. “Qualquer empresa pode participar, não apenas as signatárias, para expandir o conhecimento sobre os WEPs no país”, esclareceu. “O compromisso das empresas deve ser em diminuir toda forma de discriminação no local de trabalho e também dentro da sua cadeia de relacionamento, principalmente fornecedores”, completou.
Comunidades e propaganda – Em outra sala, voltada à perspectiva de gênero nas ações com as comunidades, Tiana Vilar Lins, da Womanity Foundation, apresentou a Plataforma UNA, que reúne diversos grupos focados na igualdade de gênero. “Percebemos que muitas iniciativas eram parecidas e tinham um potencial muito grande de trocar experiências, economizando tempo, energia e recursos financeiros”, contou. Outra mesa tratou do modo como a publicidade vê a mulher. Gerente de Planejamento da Heads Propaganda, Isabel Aquino já havia apresentado números que evidenciam a falta de representatividade da mulher e de outras minorias na propaganda brasileira. “Estamos contando as mesmas histórias, mostrando os mesmos biotipos, a realidade é muito mais diversa e interessante do que a gente está propondo”, alertou.
O evento também contou com a apresentação da gerente de Responsabilidade Corporativa da PwC, Renata Franco, que promoveu o lançamento do curso Gender IQ em português. “Esse treinamento passa desde o conceito do que é identidade de gênero até reflexões de qual o custo da desigualdade e o benefício da equidade de forma mais clara e termina com uma chamada para a ação”, explicou. “Nosso desejo é que o curso permeie não só o ambiente corporativo, mas chegue às salas de aula, às residências, e que a gente possa tratar desse tema de diferentes formas”. Logo depois, a Diretora de Recursos Humanos do Santander, Fátima Gouveia, compartilhou os estudos do banco sobre diversidade e apresentou um uso inovador da realidade virtual para permitir que os funcionários pudessem enxergar problemas do ambiente de trabalho por outro ângulo. “Quando a gente fala de vieses inconscientes, as brincadeirinhas sutis do dia a dia estão sempre muito presentes”, disse.