Latino-americanas e caribenhas querem intensificar integração com movimento de mulheres negras brasileiras
01.05.2018
Em plenária do Fórum Permanente de Mulheres Negras no Fórum Social Mundial 2018, ativistas decidem por aclamação pela realização de encontro nacional, em Goiânia, no final deste ano. Deliberação em atividades no Fórum Social Mundial, teve a participação de cerca de 200 militantes do movimento de mulheres negras. Fórum Permanente de Mulheres Negras foi organizado por ativistas negras e teve apoio da ONU Mulheres Brasil e da Embaixada do Reino dos Países Baixos
Confira: álbum digital no Facebook da ONU Mulheres
“Este é um momento de muita força e grande compromisso de todas as mulheres negras que chegamos aqui no Fórum Social Mundial para nos reencontrar, dialogar, revisar nossas estratégias e pensar o futuro próximo”, avaliou Vicenta Camuso, coordenadora da Região Cone Sul da Rede de Mulheres Afro-latinoamericanas, Afro-caribenhas e da Diáspora, após dois dias de participação no Fórum Permanente de Mulheres Negras, ocorrido em 14 e 15 de março, no Fórum Social Mundial 2018.
A ativista afro-uruguaia mencionou que este é um “momento de muito trabalho rumo a várias atividades no Cone Sul e na região da América Latina e Caribe, com eventos importantes como a realização de encontro da Rede de Mulheres Negras”, previsto para acontecer em outubro deste ano, na Colômbia. De acordo com Vicenta, será um período em que “novas pessoas vão chegar à Rede de Mulheres Afro. Estamos nos preparando para fazer uma análise política sobre a situação que estamos e os desafios. O terceiro encontro regional do Cone Sul vai permitir que possamos nos preparar para a Assembleia Geral da Rede, em outubro, o que gera um processo de revisão”, completou.
Vicenta destacou outra oportunidade de fazer avançar a agenda das mulheres negras a partir do diálogo estabelecido entre as ativistas e a ONU Mulheres para a organização de um Encontro Global de Mulheres Negras. Revelou a sua expectativa com o Encontro Nacional de Mulheres Negras 30 Anos, que acontecerá, no final do ano, no Brasil. “O momento de mais alto impacto será o Encontro Nacional de Mulheres Negras. O Cone Sul vai participar”, afirmou. Camuso comentou, ainda, que a proposta de construção de um encontro global de mulheres negras pode colaborar para o processo de rearticulação internacional. “É importante um encontro global para que reconheçamos as diferenças das mulheres afro na América Latina e Caribe, África, diáspora e de diferentes continentes, porque é uma forma de reconhecer, conversar e refletir”.
A ativista uruguaia relembrou o momento importante para a mobilização das mulheres contra o racismo e o sexismo no I Encontro Latino-americano e Caribenho, em 1992, “quando sentamos e nos reconhecemos, pela primeira vez, quando vimos as nossas diferenças, mas também as coisas em comum”. Vicenta Camuso tem boa expectativa para um “encontro global, que será altamente significativo para dar novos passos, para nós mesmas, como também leituras dos sistemas da ONU e multilaterais, que visualizem a diversidade das mulheres negras no mundo, o que é necessário para atender ao desenvolvimento sustentável. Para que ninguém fique para trás, nós, mulheres negras, não podemos ficar no mesmo lugar”, finalizou Vicenta Camuso.
Renovação de lideranças – Paola Yañez, coordenadora da Sub-região Andina da Rede de Mulheres Afro-latinoamericanas, Afrocaribenhas e da Diáspora, destacou o caráter estratégico de um encontro internacional de mulheres negras. “Estamos num momento em que a violência racial está se expressando com muita força e está calando muitas vozes. Por isso, é tão importante que nos reunamos e passemos a falar não só de agenda, mas também de estratégia para responder ao racismo atual que é diferente do racismo há 10 anos. É um outro momento e devemos enfrentar isso. Em razão disso, é importante chegar a um encontro global de mulheres negras para dialogar sobre esses temas e que não seja apenas um encontro regional”, considerou.
Afro-boliviana, Paola Yañez falou sobre a nova geração de ativistas negras na região e os diferentes estágios da resposta política das mulheres. “Sinto que algo novo está vindo para o movimento afrolatino, para o movimento feminista negro e acredito que haverá uma troca intergeracional muito bonita. Hoje, há posições de mulheres que se reconhecem abertamente lésbicas e hoje estão muito mais abertas a coisas que antes tinham que refletir muito. Porque hoje essas coisas já estão dadas como natural e normal”, assinalou em alusão às mudanças dos modos de viver de mulheres negras como resultado da luta política.
Zaylin Powell Castro é cubana e desenvolve estudos de doutoramento no Brasil
Foto: ONU Mulheres/Isabel Clavelin
Vozes diversas e semelhantes na diáspora – A afro-cubana Zaylin Powell Castro, doutoranda do Programa Multi-institucional e Multidisciplinar em Difusão do Conhecimento da Universidade Federal da Bahia, falou sobre o momento ímpar que o Fórum Permanente de Mulheres Negras proporcionou para ela. “Para mim, foi uma honra fazer parte de uma mesa que fale sobre mulheres e estar composta por mulheres negras. Mulheres empoderadas que são capazes, cada uma, a partir dos contextos econômicos, históricos, políticos e sociais que cada uma traz, somos cada uma de diferentes países, e encontramos semelhanças sobre o que vivemos”, salientou.
Como membra da Rede Africanidades, que estuda religiosidades de matriz africana, Zaylin Castro ressaltou que o debate sobre racismo em Cuba ainda é velado e interditado. “Existe um imaginário que Cuba, ao ser o primeiro país socialista nas Américas, não pode falar sobre problemáticas sociais que rompam com esse sonho construído. Então, se nega a existência do racismo”, criticou ao frisar as trocas de visões entre mulheres negras latino-americanas e caribenhas no Fórum Social Mundial.
Mulheres Negras no #FSM2018 – O Fórum Permanente de Mulheres Negras foi uma realização das entidades mobilizadoras da Marcha das Mulheres Negras contra o Racismo e a Violência e pelo Bem Viver, sendo organizada pelo Comitê Mulheres Negras Rumo a um Planeta 50-50 em 2030 e pela Articulação de ONGs de Mulheres Negras Brasileiras. As atividades tiveram o apoio da ONU Mulheres Brasil – no âmbito da estratégia de comunicação e advocacy Mulheres Negras Rumo a um Planeta 50-50 em 2030 –, e da Embaixada do Reino dos Países Baixos, como parte da programação do Março Mês das Mulheres.