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A ONU Mulheres é a organização das Nações Unidas dedicada à igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres.

Brasil

Grupos de comunicação e ONU Mulheres destacam ações pela igualdade de gênero na mídia em encontro da Associação Internacional de Radiodifusão



06.11.2017


Encontro ocorreu na capital argentina e reuniu entidades representantivas do setor de radiodifusão e grupos de comunicação da Argentina, Brasil, Chile, Costa Rica, Colômbia, El Salvador, Guatemala, México, Uruguai e Venezuela

 

Grupo Clarín (Argentina), Grupo Globo (Brasil), El Tiempo (Colômbia) e Grupo Cisneros (Venezuela) apresentaram suas ações para a promoção da igualdade de gênero na reunião liderada pela Associação Internacional de Radiodifusão (AIR) junto a seus sócios e sócias e ONU Mulheres. A mostra de casos e experiências ocorreu, em 31 de outubro, em Buenos Aires, na Argentina.

Raphael Vandystadt, gerente de Responsabilidade Social do Grupo Globo, expôs as estratégias de mobilização social. No tema direitos humanos, ele assinalou a campanha Respeito, desenvolvida com apoio da ONU Mulheres, Unesco, Unicef e Unaids. “A cada 11 minutos, uma mulher é assassinada no Brasil. A gente quer chamar a atenção para essa grave violação de direitos. Todos os dias, a Globo fala com 100 milhões de brasileiros. A Globo cobre 98% do território nacional e 96% da grade de programação é feita em nossos estúdios, sendo a maior produtora de conteúdo de televisão na América Latina e no mundo. A nossa responsabilidade é tentar mudar algumas narrativas, principalmente quando falamos de narrativas de qualidade de vida, sustentabilidade, educação, direitos humanos, direitos de crianças e mulheres. Este ano o nosso tema é Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”, disse.

Good Mob norteia estratégias de mobilização social do Grupo Globo

 

O gerente de Responsabilidade Social do Grupo Globo destacou, ainda, a incorporação de temas sociais nas telenovelas da Globo. Sobre as mulheres, mais de 600 cenas foram registradas desde 2007 em mais de 30 novelas, entre elas Mulheres Apaixonadas (2003), A Favorita (2008) e Cheias de Charme (2012) a respeito de violência contra as mulheres e direitos das trabalhadoras domésticas. “Desde 2014, dedicamos o Dia Internacional da Mulher com um dia inteiro de programação. Outra ação que tivemos com a ONU Mulheres, foi a campanha e produção de conteúdos no último 8 de março. Foram 83 reportagens em telejornais, 23 reportagens em programas de entretenimento, 48 reportagens da Globonews e 17 reportagens em esporte”.

Com exclusividade, Raphael Vandystadt apresentou um dos produtos da nova investida do Grupo Globo: REP – Repercutindo histórias, para plataformas de internet. “Acabamos de fazer, em parceria com a ONU Mulheres, um REP sobre comportamento abusivo e a rede de enfrentamento à violência contra as mulheres. O tema está sendo abordado na telenovela, mas a gente precisava de complemento para as redes sociais. No tema passado, educação, houve repercussão de 3 milhões de pessoas nas redes sociais. Neste novo REP, a gente quer dobrar”, completou.

Igualdade de gênero e audiência – María Ignacia Arcaya, diretora executiva do Grupo Cisneros, mencionou que educação e empoderamento das mulheres são questões priorizadas pelas empresas e fundações do grupo. “A igualdade de gênero e empoderamento das mulheres são chave para se alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, além de igualdade de gênero ser um objetivo em si. Promovemos os direitos das mulheres na América Latina por meio de programas sociais e de iniciativas comunicacionais”.

A executiva contou que Venevisión e ONU Mulheres firmaram, em 2013, compromissos de longo prazo para criar consciência em torno direitos das mulheres, identificar os diferentes tipos de violência contra as mulheres e promover os direitos das mulheres. Durante o Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres, mobilizaram artistas venezuelanos para apoiar a iniciativa O Valente Não é Violento, vinculada à campanha do Secretário-Geral da ONU UNA-SE pelo fim da violencia contra as mulheres.

María Ignacia Arcaya também contou sobre como os concursos de beleza da Venezuela, que detêm grande audiência, foram incorporando o tema sobre direitos das mulheres. “Em 2014, fizemos um trabalho para impactar a vida de futuras figuras públicas sobre direitos das mulheres, para que elas sejam multiplicadoras, e a presença do tema nos programas de concurso de beleza, para sensibilizar a audiência. Ao longo do concurso, mostramos os conteúdos de formação das candidatas sobre direitos das mulheres e, na transmissão final, fizemos um trabalho nas redes sociais entorno da hastag #UnaVidaSinViolencia, que se transformou em trend topics mundial na época do concurso”, salientou.

María Ignacia Arcaya, diretora executiva do Grupo Cisneros, mostrou as diferentes estratégias da empresa para apoiar o avanço dos direitos das mulheres na Venezuela
Foto: ONU Mulheres/Isabel Clavelin

 

Outra ação destacada foi a incorporação de artistas em apoio à ferramenta violentômetro, de origen mexicana #LasMujeresPeleamos, para mobilizar a sociedade venezuelana contra a violência de gênero. “Como pretendemos que a história mude, precisamos de exemplos positivos nas telenovelas e que levem à reflexão sobre as cenas que são negativas”. Em apoio ao movimento global ElesPorElas (ÉlPorElla em Espanhol e HeForShe en Inglês), Maria Ignacia mostrou o engajamento de homens com visibilidade pública em produtos de comunicação sobre situações comuns, fazendo a defesa dos direitos das mulheres e da igualdade de gênero.

Jornalismo e igualdade de gênero – María Julia Díaz Ardaya, gerente de Responsabilidade Social e Sustentabilidade do Grupo Clarín, trouxe reflexões sobre os desafios para o jornalismo, a publicidade e a interiorização da igualdade de gênero nas empresas de comunicação.

María Julia Adaya, gerente de Responsabilidade Social e Sustentabilidade do Grupo Clarín, destacou o trabalho de interiorização da igualdade de gênero nas diferentes áreas de operação do grupo
Foto: ONU Mulheres/Isabel Clavelin

“A questão é sobre como o jornalismo pode tomar uma decisão cotidiana de repensar-se e escolher o linguístico e o icônico em acordo com a igualdade de gênero. Mais do que quantidade de notícias e reportagens, trabalhar sobre o linguístico, o icônico, o simbólico e a ética jornalística é muito mais transformador, porque é trabalhar e visibilizar o que está oculto”, considerou.

Maria Julia ressaltou que “o papel do jornalismo é ir naturalizando a igualdade de gênero nas decisões editoriais para que o tema possa se automatizar, romper os erros e os estereótipos desde a decisão editorial. A grande chave é a sensibilização de jornalistas, produtores e produtoras, cronistas esportivos, apresentadores e apresentadores. E como avançar nos espaços de trabalho, naturalizar os novos termos, incorporar conceitos positivos e enfrentar os erros, para que a mensagem chegue naturalmente à audiência cotidiana”, completou.

 

 

A gerente do Grupo Clarín comentou os efeitos da lei sobre violência contra as mulheres que determina, entre outras ações, a eliminação do sexismo na informação. “Revisar os nossos códigos de ética nos permite incorporar questões como violência, abuso, direitos humanos. Como abordar essas coisas desde os conteúdos até o interno. A sensibilização é para nós muito importante, porque não há mudança se não encontrar os líderes internos. Organizações existosas são aquelas que sabem colocar as pessoas nos lugares corretos e empoderá-las”, explicou ao mencionar comité e iniciativas de valorização da diversidade, entre elas os Princípios de Empoderamento das Mulheres, da ONU Mulheres e do Pacto Global, do qual o Grupo Clarín faz parte.

Relato de uma sobrevivente – Jineth Bedoya, subeditora do jornal El Tiempo, fez um relato supreendente de ter sido vítima de sequestro e violência sexual durante o exercício de atividade profissional, no ano 2000, por paramilitares, quando fazia uma reportagem numa prisão nas cercanias de Bogotá.

“Fui sequestrada, torturada e violada por três homens. Fiquei calada por nove anos. Quando eu me dei conta da dimensão da violência sexual na Colômbia, eu entendi que teria de falar. Em setembro de 2009, decidi contar o meu caso. Foi um dos momentos mais duros da minha vida, porque é difícil falar publicamente ter sido vítima de violência sexual. Mas também deu a possibilidade de fazer a campanha #NoEsHoraDeCallar, uma das mais conhecidas da Colômbia que visibiliza a violência de gênero no País”.

Jineth Bedoya (na tela), subeditora do jornal El Tiempo, contou ser vítima de violência de gênero no exercício da profissão e o seu empenho em melhorar o trabalho do jornalismo na Colômbia
Foto: ONU Mulheres/Isabel Clavelin

 

Jineth Bedoya frisou a responsabilidade do jornalismo com as mulheres em situação de violência e que a imprensa precisa adotar novas práticas, a fim de impedir a revitimização das mulheres. “É preciso fazer entender à redação e nos conscientizarmos de que somos uns dos primeiros e primeiras responsáveis em fomentar ou parar a violência contra as mulheres. O que dizemos nos nossos textos, o que publicamos nas nossas redes sociais, o que fazemos nos canais de televisão é fundamental para fazer parar esse modelo fetichista patriarcal que acontece não somente na América Latina, mas em todo o mundo. Eu me empenhei em fazer um guia para jornalistas. Com apoio da ONU Mulheres, criamos um pequeno decálogo sobre como cobrir violência, o qual implica capacitação de jornalistas”, explicou Jineth.

A subeditora do jornal El Tiempo chamou a atenção sobre as rotinas produtivas do jornalismo, problematizando que a busca pela notícia não deveria se colocar acima dos direitos humanos das mulheres, incluindo a comunicação como direito humano. “Quando estamos escrevendo um editorial, artigo, reportagem, o primeiro que temos de fazer é pensar que a pessoa que está na nossa frente poderia ser você mesma. Eu digo isso porque aconteceu comigo. Quando me resgataram, me levaram para uma clínica. E os primeiros que chegaram foram três jornalistas. E antes de me perguntarem se eu queria um telefone para ligar para mina mãe para dizer que eu estava viva ou alguma outra coisa, o que me pediram foi uma declaração para enviar às suas redações”, finalizou.

Em 2014, a data do sequestro de Jineth Bedoya foi incorporada, por decreto presidencial, ao calendário oficial da Colômbia como Dia Nacional pela Dignidade das Mulheres Vítimas de Violência Sexual no Contexto de Conflito Armado Interno.