Empreendedoras refugiadas e migrantes investem em conhecimento para aumentar as vendas
20.12.2022
Curso de técnicas de vendas foi promovido com apoio da ONU Mulheres em Boa Vista (RR) visando o período de confraternizações e festas de fim de ano
Organizar as vendas, controlar o estoque, definir preço e pensar em estratégias de fidelização de clientes. Essas são algumas atividades de rotina para quem trabalha com comércio, mas que podem ser bastante desafiadoras para novas e pequenas empreendedoras – e mais ainda para aquelas que estão no Brasil há pouco tempo, como refugiadas e migrantes.
Pensando em auxiliar aquelas que desejam aumentar as vendas, em especial no período de festas de fim de ano, foi realizado na última sexta (09/12) o curso Técnicas de Venda, destinado majoritariamente às mulheres refugiadas e migrantes vivendo em Boa Vista (RR). O objetivo da oficina também foi apoiar as vendas das participantes da Feira IntegraArte.No total, 17 participaram do curso, muitas preparadas para expor os produtos na feira realizada no final de semana. O curso foi organizado pelo GT de Trabalho da Operação Acolhida, liderado por ACNUR e OIM, e que conta com a participação da ONU Mulheres, outras agências da ONU atuantes no estado, e de organizações da sociedade civil, como o Museu A Casa do Objeto Brasileiro, que ministrou a oficina.
Ana chegou ao Brasil em busca de trabalho e oportunidades. Com dificuldades para conseguir um emprego, ela aprendeu a costurar com uma amiga e juntas abriram o próprio negócio. Elas fazem redes artesanais de todos os tamanhos e com tecidos diferentes. O empreendimento deu certo e elas participaram do curso de Técnicas de Vendas para aprimorar seus conhecimentos.
“A coisa mais importante que eu acho desse curso é conseguir concretizar a integração das pessoas, pois fazemos muitas coisas e muitas mulheres não conseguem vender o seu material, por isso a necessidade de se capacitar. Então o curso ajuda nisso, e a feira é uma oportunidade para comercializar os nossos produtos. Eu trabalho há dois anos com artesanato, apesar de não ser minha profissão anteriormente, e hoje eu aprendi a fazer isso, é o que eu amo fazer”, afirma.
Aprender sobre o trabalho exercido ajuda a entender e conhecer a história da profissional que está por trás daquele produto. Para esta prática, o curso contou também com dinâmicas de simulação de compra e venda, apresentação individual do produto e história sobre o artesanato.
“As mulheres da etnia Warao trabalham com a fibra de buriti e essa fibra é muito difícil de ser encontrada, porque não é só tirar a palha do buriti, tem muita coisa na fase de produção. São quase 4 dias para conseguir uma fibra. Vendo a dificuldade da matéria prima, também podemos atribuir valor ao nosso trabalho”, relatou Dhalila Cruz, oficial de campo do Museu A Casa do Objeto Brasileiro, parceira na realização do curso.
Dhalila Cruz foi quem ministrou o curso e disse que ter conhecimentos e técnicas específicas facilitam na hora de vender os produtos. “É importante elas saberem algumas técnicas e formas de persuasão pra vendas, principalmente porque não é apenas você deixar exposto ali o produto, é preciso falar, ter algo interessante. Então elas precisam ser profissionalizadas para fazerem uma boa venda”, explicou.
Realizado ainda durante os 21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres, o curso tem uma ligação direta com a promoção da autonomia financeira e a quebra dos ciclos de violência. “Um dos principais fatores que dificultam que as mulheres saiam de relacionamentos com episódios de agressões é a dependência financeira, e a dificuldade de acesso às oportunidades de trabalho. Assim, atividades que contribuam ao desenvolvimento local e ao empoderamento econômico têm efeitos diretos na economia e na redução da violência contra as mulheres”, disse Mariana Cursino da Cruz, especialista em Transversalização de Gênero na ONU Mulheres.
Sobre o Moverse – Iniciado em setembro de 2021, o programa conjunto Moverse – Empoderamento Econômico de Mulheres Refugiadas e Migrantes no Brasil é implementado pela Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), ONU Mulheres e Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), com o apoio do Governo de Luxemburgo. O objetivo geral do programa, com duração até dezembro de 2023, é garantir que políticas e estratégias de governos, empresas e instituições públicas e privadas fortaleçam os direitos econômicos e as oportunidades de desenvolvimento entre venezuelanas refugiadas e migrantes. Para alcançar esse objetivo, a iniciativa é construída em três frentes. A primeira trabalha diretamente com empresas, instituições e governos nos temas e ações ligadas a trabalho decente, proteção social e empreendedorismo. A segunda aborda diretamente mulheres refugiadas e migrantes, para que tenham acesso a capacitações e a oportunidades para participar de processos de tomada de decisões ligadas ao mercado laboral e ao empreendedorismo. A terceira frente trabalha também com refugiadas e migrantes, para que tenham conhecimento e acesso a serviços de resposta à violência baseada em gênero. Para receber mais informações sobre o Moverse e sobre a pauta de mulheres refugiadas e migrantes no Brasil, cadastre-se na newsletter do programa em http://eepurl.com/hWgjiL