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A ONU Mulheres é a organização das Nações Unidas dedicada à igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres.

Brasil

Em audiência pública no Senado, ONU Mulheres destaca as principais ações com foco nas afro-brasileiras



18.07.2017


A assessora de programas Eunice Borges participou da 44ª edição do Pauta Feminina, realizado pela Procuradoria Especial da Mulher do Senado Federal, e destacou a agenda das agências do Sistema ONU com foco nas mulheres negras

Em audiência pública no Senado, ONU Mulheres destaca as principais ações com foco nas afro brasileiras/noticias direitosdasmulheres

 Os desafios e as possibilidades encontradas pelas mulheres negras na busca pela igualdade. Foi o tema da sessão do Pauta Feminina, realizado pela Procuradoria Especial da Mulher do Senado Federal, na quinta-feira, (13/7). Na ocasião, a assessora do Programa Liderança e Participação Política da ONU Mulheres, Eunice Borges, resgatou os marcos internacionais que pautam as ações do Sistema das Nações Unidas para a população negra como a Conferência e o Plano de Ação de Durban, a Década Internacional de Afrodescendentes, bem como sua integração à Agenda 2030, no campo dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Eunice destacou o apoio da ONU Mulheres para o empoderamento das mulheres negras brasileiras como a Marcha das Mulheres Negras contra o Racismo, a Violência e pelo Bem Viver, realizada em novembro de 2015, que reuniu 50 mil mulheres em Brasília, o Festival Latinidades e o II Encontro de Negras Jovens Feministas, que acontecerá em setembro. A assessora apresentou a estratégia de comunicação e advocacy político Mulheres Negras Rumo a um Planeta 50-50 em 2030. “O temos feito é caminhar de mãos dadas, apoiando o movimento de mulheres negras, que no Brasil tem uma capilaridade extraordinária, para que juntas possamos trabalhar um Planeta 50-50 que seja justo para todos e todas, sem deixar ninguém para trás”, considerou.

A 44ª do Pauta Feminina celebrou os dias de Tereza de Benguela, ícone na luta anti-escravocrata no Brasil, e da Mulher Afro-latino, Afro-americana, Afro-caribenha e da Diáspora, celebrados no próximo dia 25 de julho.

Juntas para as conquistas – Agda Alves é negra e nordestina. Encontrou-se no ativismo após ficar cadeirante e vir para Brasília com os filhos. Atualmente, representa 85 mil brasilienses no Coletivo de Mulheres com Deficiência do Distrito Federal. À frente do grupo há um ano, para Agda a principal demanda das mulheres é por empoderamento. “A mulher precisa ocupar espaço empoderando outras mulheres. Não vamos conseguir sozinhas, por isso, temos que nos ajudar no dia a dia. As mulheres precisam se unir para mudar a história do Brasil com união e educação”, concluiu.

A senadora Regina Sousa (PT/PI) também participou dos debates. Ela também acredita que as mulheres precisam encontrar as semelhanças para atuar. “Essa luta também é minha não só como parlamentar, mas como mulher negra, neta de escravos, com muito orgulho. Temos que estar juntas independente de qual entidade a gente pertença. Atingiu uma mulher negra, temos que estar lá atuando, lutando, somos cidadãs e queremos respeito”, disse.

Eunice Borges considerou que é preciso acabar com o racismo para que as mulheres possam se empoderar entre si, para que àmedida que uma suba, possa puxar a outra para ocupar os espaços importantes de representação. “Se o racismo estrutural não acabar e as discriminações não forem combatidas por todos, a gente não consegue puxar as outras num ambiente que não nos permite alcançar a igualdade”, avaliou.

Mulheres negras e comunicação – Flora Egécia, cineasta e diretora do documentário ‘Das Raízes às Pontas’, destacou o papel da internet e das redes sociais para que um maior número de mulheres negras, e não-negras, possam contar suas realidades, em contraponto à mídia tradicional que ainda as exclui. “Ainda que o acesso não seja tão amplo, quando isso acontece, elas encontram uma rede de apoio, para a continuação da luta. Não ser a única mulher negra fazendo o que eu faço é muito encorajador. Produzir ativismo a partir da ferramenta do audiovisual é uma revolução”, contou.

Ainda que as mulheres sejam maioria nas carreiras jornalísticas, os postos de chefia e estratégicos são ocupados majoritariamente por homens. Ester Monteiro quebra esse padrão com sua atuação como diretora de jornalismo da Secretaria de Comunicação do Senado Federal. Na ocasião, ela falou sobre o processo de reconhecer-se negra e destacou seu compromisso pessoal com a tranversalização da temática de gênero nos noticiários do Senado. “Eu tive grandes oportunidades e, em quase todas elas, me vi como sozinha ao lado de homens no jornalismo. Em todos esses momentos, eu contribui para a pauta das mulheres”, disse.

Cultura como política – A jornalista e dançarina Joceline Gomes tem na dança o seu ativismo contra o racismo. Segundo ela, a vasta cabeleira crespa, que exibe com orgulho, é sempre alvo de comentários preconceituosos e mãos indiscretas. Ela liga esses fatos à herança escravocrata e à visão do corpo negro como algo público. Joceline desconstrói isso na dança. “Quando a gente dança eu coloco esse corpo, que é meu não é público, como eu quero, como eu desejo executar. A dança é um instrumento de empoderamento”, argumentou.

A jornalista e gerente de comunicação da Subsecretaria de Cidadania e Diversidade Cultural do DF também falou sobre a dificuldade de cumprimento da Lei 10.639/2003, sobre o ensino da história e cultura africana e afro-brasileira nas escolas do país. Para Joceline, a lei é um excelente passo para conseguir o empoderamento da população negra desde a infância, mas é negada pelo racismo institucional. “Nas escolas, com essa Lei, poderíamos ter mais referências, ferramentas para fazer a defesa política do nosso corpo, das nossas histórias, da nossa cultura e da nossa trajetória. O racismo impacta muito mais na vida das mulheres negras e cada um de nós precisa fazer alguma coisa dentro da nossa comunidade”, explicou.