• Português

A ONU Mulheres é a organização das Nações Unidas dedicada à igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres.

Brasil

Discurso da Diretora-Executiva de ONU Mulheres e Subsecretária-Geral da ONU, Sima Bahous, na abertura da 69ª Comissão sobre a Situação das Mulheres (CSW)



10.03.2025


Discurso da Diretora Executiva de ONU Mulheres e Subsecretária Geral da ONU, Sima Bahous, na abertura da 69ª Comissão sobre a Situação das Mulheres (CSW)/sima bahous pequim30 participacao politica noticias igualdade de genero direitos humanos direitosdasmulheres dia internacional da mulher destaques csw

A Diretora-Executiva da ONU Mulheres e Subsecretária-Geral da ONU, Sima Bahous, discursa em encontro com a sociedade civil durante a 69ª sessão da Comissão sobre o Status da Mulher (CSW69/Beijing+30). Crédito: UN Photo/Evan Schneider

A Diretora-Executiva da ONU Mulheres e Subsecretária-Geral da ONU, Sima Bahous, discursou na abertura da 69ª sessão da Comissão sobre a Situação da Mulher (CSW), em Nova York, nesta segunda-feira (10/3).

A CSW é a maior reunião anual da ONU sobre igualdade de gênero e empoderamento das mulheres e meninas, com participantes dos países-membros da organização, representantes da sociedade civil, de governos e do setor privado.

Leia a seguir o discurso de Sima Bahous na íntegra:

_____________________________

Não vamos recuar – Um ponto de virada para avançarmos pelos direitos, igualdade e empoderamento, para todas as mulheres e meninas

Este ano marca três décadas desde que a Declaração e Plataforma de Ação de Pequim estabeleceu uma visão ousada e um roteiro revolucionário para a igualdade de gênero. Em 1995, 189 governos se uniram em uma promessa coletiva de avançar, e cito, “os objetivos de igualdade, desenvolvimento e paz para todas as mulheres em todos os lugares, o que é do interesse de toda a humanidade”. Trinta anos depois, há progressos a celebrar, conquistados através dos esforços, bravura e inspiração daqueles que, dessas salas às casas onde as vidas são vividas, lutaram pela igualdade.

Hoje, mais meninas estão na escola. Mais mulheres estão nos parlamentos, nos conselhos diretivos e no judiciário. A mortalidade materna caiu. Barreiras legais foram desmontadas. Políticas para proteger e promover os direitos das mulheres estão progredindo. A violência contra mulheres e meninas é amplamente reconhecida como um problema global. Há progresso. Vocês, Estados Membros, impulsionaram esse progresso.

No entanto, enquanto nos reunimos aqui hoje, em muitos lugares os direitos das mulheres estão sofrendo retrocessos. Os nobres objetivos da Declaração de Pequim, seu apelo ao interesse inegável de toda a humanidade, ainda nos escapam.

Vemos oportunidades desperdiçadas, soluções abandonadas. Enfrentamos resistência e um ponto alto na resistência à igualdade de gênero. A misoginia está em ascensão e, com ela, a violência e a discriminação. E as crises de nosso tempo — desde conflitos até mudanças climáticas — aceleram e amplificam essas desigualdades. Mulheres e meninas são as que carregam o fardo mais pesado.

Vemos desigualdades se ampliando, o desmantelamento de avanços conquistados com tanto esforço. Vozes de mulheres e meninas silenciadas quando mais precisam ser ouvidas. Justamente quando deveríamos investir mais em um futuro igualitário, no brilho do potencial de mulheres e meninas, investimos menos e gastamos mais em armas e bombas.

Cento e cinquenta e nove de vocês reafirmaram seu compromisso com a Declaração e Plataforma de Ação de Pequim em seus relatórios nacionais deste ano, reconhecendo a igualdade tanto como um imperativo moral quanto como alicerce da paz, prosperidade e sustentabilidade.

Sei, portanto, que vocês compartilham da minha frustração pelo fato de que as alocações domésticas e de assistência oficial ao desenvolvimento (ODA) para a igualdade de gênero permanecem lamentavelmente inadequadas e, em alguns casos, estão sendo cortadas também. Que a representação política das mulheres permanece atrasada. Que muitas meninas ainda são privadas de educação. Que a disparidade salarial de gênero teima em permanecer ampla. Que a cada 10 minutos uma mulher é assassinada por alguém de sua própria família. Que em zonas de conflito os direitos de mulheres e meninas são sistematicamente retirados, do Afeganistão e da República Democrática do Congo a Palestina, Gaza, Haiti, Mianmar, Sudão, Ucrânia e além. E que somente no ano passado, a proporção de mulheres mortas em guerras dobrou.

Nós, vocês, os champions da igualdade de gênero, não temos medo da resistência. Já a enfrentamos antes. Não recuamos. E não recuaremos.

As poderosas palavras da Declaração de Pequim significam pouco sem ação. O relatório do Secretário-Geral, com base em sua revisão e avaliação da implementação da Declaração e Plataforma de Ação de Pequim, mostra que, a nível global, embora haja progresso, ele não é rápido nem abrangente o suficiente.

Precisamos, e mulheres e meninas esperam e merecem, aceleração, esforços redobrados e um reconhecimento tardio de que o que foi feito não é suficiente, o que está sendo feito não basta, e o que deve ser feito não pode mais ser adiado.

Para esse fim, a ONU Mulheres realizou uma revisão rigorosa, liderada por especialistas, de seus relatórios, combinada com uma análise das realidades que mulheres e meninas enfrentam hoje. A partir disso, identificamos seis ações-chave e um imperativo transversal, formando uma Agenda de Ação Pequim+30 para o mundo digno de nossa energia e investimento:

1. Aproveitar a tecnologia para a igualdade — para uma revolução digital

As desigualdades no acesso às tecnologias digitais têm sido a fronteira da desigualdade. Acabar com essa lacuna para as 259 milhões de mulheres que ainda não têm acesso à internet tem implicações transformadoras. A tecnologia tem o poder de acelerar o progresso em todas as frentes, desde acabar com a violência até expandir oportunidades econômicas. O acesso igualitário a habilidades digitais, serviços financeiros digitais, mercados e redes oferece enormes benefícios econômicos para toda a sociedade.

2. Fim da pobreza

Hoje, a pobreza continua a ter um rosto feminino, com quase 1 em cada 10 mulheres vivendo em meio às formas mais extremas de pobreza. Esse afastamento econômico custa à economia global dezenas de trilhões de dólares a cada ano. No entanto, quando as mulheres prosperam, as economias prosperam. Cada dólar investido no empoderamento econômico das mulheres retorna múltiplas vezes.

Transformar sistemas de cuidado pode liberar tempo e recursos para que as mulheres adquiram poder econômico, mudando os trajetos de suas vidas.

3. Tolerância zero à violência

A prevalência da violência contra as mulheres continua alarmante. Uma em cada três mulheres globalmente sofreu violência física ou sexual, mais frequentemente por um parceiro íntimo.

Fortalecer leis, aplicá-las rigorosamente e fornecer serviços centrados nas sobreviventes quebra esse ciclo de violência. Investir na prevenção da violência não apenas constrói comunidades mais seguras, mas também cria uma base para a igualdade e o bem-estar de todas e todos.

4. Redefinir estruturas de poder para garantir pleno e igual poder de decisão

As mulheres continuam sub-representadas em todos os níveis de tomada de decisão, com três quartos dos assentos parlamentares globalmente ocupados por homens.

Quando as mulheres estão na mesa de decisões, as democracias são mais fortes. Simplificando, a governança inclusiva é a boa governança.

5. Mulheres, paz e segurança

Quando as mulheres têm voz igualitária na construção da paz, a paz dura mais. No entanto, repetidamente, as mulheres são excluídas, representando menos de 10% dos negociadores de paz em todo o mundo. Como podemos reiteradamente professar nosso compromisso com a paz enquanto excluímos as mulheres de sua busca?

Precisamos de planos de ação nacionais totalmente financiados para as áreas de mulheres, paz e segurança; organizações lideradas por mulheres na linha de frente da crise; e uma ação humanitária totalmente responsiva ao gênero.

6. Promover a justiça climática

As mudanças climáticas são a crise definidora de nosso tempo e não são avessas a gênero. Sem uma ação ousada, 256 milhões de mulheres e meninas podem ser empurradas para a insegurança alimentar até 2050.

Investir em empregos verdes para mulheres pode criar 24 milhões de empregos até 2030, impulsionando tanto a economia global quanto a sustentabilidade ambiental. Justiça climática e justiça de gênero são inseparáveis. É hora de defendê-las juntas.

E nosso imperativo adicional: jovens mulheres e meninas como agentes de mudança

Uma nova onda de ativismo ousado, liderado por jovens, está surgindo ao redor do mundo. Suas vozes, seu poder, sua liderança devem estar no centro da Agenda de Ação Beijing+30.

Essas prioridades “6+1” oferecem uma visão moderna de um plano de ação atemporal, um caminho prático e refletido para a aceleração. Elas representam soluções comprovadas, pragmáticas e baseadas nos direitos humanos. São a melhor maneira de cumprir as promessas feitas há 30 anos em Beijing.

Os compromissos assumidos pelos seus países são poderosos e duradouros. Desde o apelo da Carta das [Nações Unidas] por igualdade, até a visão de justiça e oportunidade da Declaração e Plataforma de Ação de Pequim, devemos a eles nossos melhores esforços.

Nesse espírito, a adoção da Declaração Política da CSW, esperamos, nesta manhã, será um testemunho do que podemos alcançar — mesmo em tempos desafiadores — quando nos unimos em prol das mulheres e meninas; quando afirmamos o compromisso contínuo dessas Nações Unidas com a igualdade e o papel do multilateralismo em sua busca.

Este ano, vocês também terão a oportunidade de revitalizar esta própria Comissão, conforme solicitado no Pacto para o Futuro, para que seja uma CSW fortalecida e para que continue apta para o propósito.

Em tudo isso, temos uma dívida de gratidão à sociedade civil e aos movimentos liderados por mulheres, cuja coragem e defesa inabalável impulsionaram mudanças transformadoras. Sociedade civil e movimentos liderados por mulheres – vocês são a consciência de nossos compromissos globais, as vozes que nos instam a fazer melhor, a ser melhor.

Às organizações feministas de base, àquelas menores, que trabalham incansavelmente contra as maiores dificuldades, vocês são nossa inspiração.

Como sabem, este ano não é qualquer ano. É o ano dos aniversários: Beijing+30, que também vamos comemorar na UNGA80 [a 80ª sessão da Assembleia Geral da ONU], o 25º aniversário da Agenda Mulheres, Paz e Segurança, e o 15º aniversário da ONU Mulheres, que vocês criaram, nesta mesma sala. Mas aniversários não são conquistas. São lembretes – do progresso alcançado, dos direitos ainda não garantidos e do trabalho que ainda temos pela frente.

2025 deve ser um ponto de virada, um momento na história dessa longa luta onde abraçamos ações ousadas, urgentes e transformadoras. Onde mostramos nossa determinação de avançar pelos direitos, pela igualdade e pelo empoderamento. Para todas as mulheres e meninas.

E antes de concluir, gostaria de dizer Ramadan Kareem a todos que estão observando este mês sagrado.

Que este crucial 2025 seja um tempo de paz, justiça e solidariedade. Novamente, repito: pelos direitos, pela igualdade e pelo empoderamento, para todas as mulheres e meninas em todos os lugares. Que sejamos lembrados do poder da unidade e da compaixão.

Muito obrigada.