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Brasil

Custos socioeconômicos do vírus Zika no Brasil podem chegar a 10 bilhões de dólares



16.08.2017


Relatório “Uma avaliação do impacto socioeconômica do vírus Zika na América Latina e no Caribe: Brasil, Colômbia e Suriname como estudos de caso” conclui que a epidemia de Zika terá impacto significativo de curto e de longo prazos nas esferas econômica e social nas Américas

Acesse aqui o relatório

Do PNUD

Custos socioeconômicos do vírus Zika no Brasil podem chegar a 10 bilhões de dólares/noticias direitosdasmulheres

Mesa de abertura do evento de lançamento do relatório contou com a presença do secretário executivo do Ministério do Desenvolvimento Social, Alberto Beltrame; do diretor do Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis da Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde, João Paulo Toledo; e do diretor de país do PNUD Brasil, Didier Trebucq. Foto: PNUD/Thalita Rosemberg

O custo socioeconômico da disseminação do vírus Zika na América Latina e no Caribe totalizará entre US$ 7 bilhões a US$ 18 bilhões (aproximadamente R$ 22 bilhões a R$ 56 bilhões de reais) entre 2015 e 2017. No longo prazo, o custo da microcefalia resultante do Zika pode atingir de US$3 a US$10 bilhões de dólares só para o Brasil, impondo um ônus imediato sobre os sistemas de cuidados de saúde e bem-estar social, de acordo com a avaliação de impacto lançada, em 15 de agosto, em Brasília pelo PNUD e o Ministério da Saúde. O estudo resulta de parceria do PNUD com a Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho (FIRC), com a colaboração do Instituto de Saúde Global de Barcelona (ISGlobal) e da Universidade Johns Hopkins (JHU).

O relatório “Uma avaliação do impacto socioeconômica do vírus Zika na América Latina e no Caribe: Brasil, Colômbia e Suriname como estudos de caso” conclui que a epidemia de Zika terá impacto significativo de curto e de longo prazos nas esferas econômica e social nas Américas.

Economias maiores como o Brasil devem ter a maior parcela do custo absoluto, mas os impactos mais severos serão sentidos em países mais pobres. Haiti e Belize podem perder em torno de 1,13% e 1,19%, respectivamente, do PIB anualmente em um cenário de infecção elevada. Os custos indiretos podem ser substanciais. As estimativas sugerem que a renda perdida devido a novas obrigações com cuidados infantis poderá atingir entre meio bilhão e US$ 5 bilhões de dólares (aproximadamente de R$ 1,5 a 15,5 bilhões de reais) para a região.

O Caribe é o mais afetado, com um impacto cinco vezes maior que o da América do Sul. Mais de 80% das perdas potenciais em três anos devem-se à redução das receitas do turismo internacional, com o potencial de atingir um total de US$ 9 bilhões de dólares (aproximadamente R$ 28 bilhões de reais) em três anos ou 0,06% do PIB anualmente.

“Os surtos de doenças, além de terem consequências potencialmente graves para a saúde, podem devastar social e economicamente comunidades e minar os esforços nacionais de desenvolvimento. Embora uma resposta de emergência rápida e oportuna seja um passo indispensável para controlar a epidemia de Zika, como é o caso do Brasil, há uma necessidade crescente de tratar dos efeitos menos evidentes desses surtos, ou seja, os impactos sociais, as perdas e dificuldades econômicas que aumentam as desigualdades preexistentes”, afirmou o Diretor de País do PNUD, Didier Trebucq.

Apresentando o relatório, a especialista em Saúde e uma das organizadoras do relatório, Pallavi Yagni destacou que o Zika afeta principalmente as populações mais pobres, sobretudo as mulheres pobres de áreas periféricas das cidades”. Ela destacou, como impacto social do Zika, a exacerbação da pobreza e da desigualdade, o aumento da desigualdade de gênero, o aumento do estigma e dos desafios para o bem-estar dos afetados, a exposição dos desafios de governança.

Embora tenha havido esforços, por parte dos três países contemplados no relatório, para controlar a disseminação do Zika, o relatório mostra que as respostas nacionais ao vírus na região enfrentam vários desafios, incluindo modesta capacidade em sistemas de vigilância e diagnóstico, esforços de prevenção, alocação de recursos e coordenação. As persistentes disparidades sociais e a desigualdade na cobertura dos serviços de saúde tornam mais difícil que as respostas nacionais alcancem os grupos mais vulneráveis.

“A magnitude e a distribuição desigual do impacto do Zika requerem, portanto, uma resposta multifacetada adequada, adaptada à situação e às necessidades de cada país. O governo brasileiro, por exemplo, já deu passos significativos nessa direção, com apoio dos estados e municípios, assim como da sociedade em geral”, observou Trebucq.

“O Brasil é um país central no acúmulo de conhecimento. Foi o primeiros pais com um grande surto que atingiu uma parte vulnerável da população. Aqui temos a oportunidade de fazer um acompanhamento para entender melhor as consequências e implicações do Zika em médio e longo prazos”, ressaltou o Representante da Organização Mundial de Saúde (OMS) no Brasil, Joaquin Molina, também presente no lançamento do relatório.

Na opinião do Secretário Executivo do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), Alberto Beltrame, “o Brasil aprendeu muito com esse episódio do Zika. Nós temos aqui experiências exitosas e gostaríamos de compartilhar com o mundo. Este relatório é importante para lançar luzes e esclarecer alguns pontos que ainda não estão totalmente detalhados e investigados”.

Para o professor Esper Kallás, coordenador do programa de pós-graduação em alergia e imunopatologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), o impacto do Zika é extremamente vasto, “e ainda vamos ter que viver com isso por muito tempo. ” Na opinião do especialista, “para combater qualquer crise, o avanço no conhecimento e na informação é muito importante”. Segundo ele, quando a epidemia de Zika eclodiu no Brasil, “havia pesquisadores que já trabalhavam com outras doenças, ou seja, havia uma capacidade instalada”. Sem a capacidade instalada, ele acredita, “não seria possível caracterizar o vírus e dar todas as respostas que demos até o momento”.

A vice-diretora de Ensino do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF) e pesquisadora da Fiocruz, doutora Martha Moreira salientou “a importância de a gente pensar cada vez mais na articulação com órgãos internacionais, governos para uma agenda permanente”. Ela defende, em consonância com o que o relatório aponta, a necessidade de “olhar para os direitos das mulheres como um ponto estratégico”.

A avaliação de impacto conclui que o preparo e estratégias de resposta regionais e nacionais precisam ser fortalecidas e devem envolver as comunidades. Como visto recentemente com o Zika e a febre amarela, as epidemias espalhadas por mosquitos podem se expandir rapidamente, e os governos e as comunidades devem estar prontos para reagir.

O custo econômico considerável do Zika destaca a necessidade de controlar o mosquito Aedes aegypti de forma integrada e multissetorial, considerando que dengue, Chikungunya, febre amarela e Zika são todos espalhados pelo mesmo tipo de mosquito. Abordar as condições que incentivam a proliferação do vetor pode impedir não somente o Zika, mas também outras epidemias.

Além disso, o relatório recomenda fortemente que os programas de proteção e os sistemas de saúde sejam adaptados e reforçados para atingir os mais necessitados, incluindo as mulheres, as meninas e as pessoas com necessidades especiais. A promoção da igualdade de gênero e da saúde sexual e reprodutiva são indispensáveis para que qualquer resposta ao Zika seja eficaz.