Conheça a história do projeto liderado por beneficiárias do Moverse em busca do resgate cultural de crianças venezuelanas

18.12.2024

Com o Raízes Folclóricas, Karennys e Eunice fortalecem memórias familiares e conquistam oportunidades de crescimento profissional

Pertencimento. Buscando despertar esse sentimento nas crianças venezuelanas que vivem na comunidade João de Barro, em Boa Vista (RR), nasceu o projeto Raízes Folclóricas, uma iniciativa liderada por duas amigas que acreditam no valor da cultura para o desenvolvimento de todas as pessoas.

No Dia Internacional da Pessoa Migrante, celebrado em 18 de dezembro, apresentamos a história do projeto liderado por Karennys e Eunice, que chegaram ao Brasil em anos diferentes, por motivos semelhantes: as consequências da crise econômica vivenciada na Venezuela. Mães, elas enxergavam nas crianças da comunidade João de Barro um distanciamento de suas origens, que ultrapassava a separação física entre os territórios em que nasceram e agora vivem, mas que atravessavam também suas identidades.

Há aproximadamente três anos, a comunidade João de Barro acolhe dezenas de famílias refugiadas e migrantes, especialmente venezuelanas. Desde então, a comunidade busca se organizar para garantir que suas crianças tenham acesso a oportunidades de desenvolvimento no Brasil, sem que apaguem traços significativos de suas identidades.

O desejo de proporcionar memórias sobre a cultura, a história e os valores venezuelanos fez com que as amigas criassem o Raízes Folclóricas. “As árvores têm raízes profundas. Pensamos em uma árvore que tem essas raízes profundas, porque temos que deixar valores, temos que deixar nossas tradições”, explica Eunice.

De maneira improvisada, a dupla reuniu algumas crianças da comunidade e iniciou encontros. Durante algumas horas, elas proporcionavam atividades lúdicas como dança e teatro para compartilhar um pouco sobre a cultura venezuelana.

Foi a partir de um ciclo de palestras e oficinas realizado em 2023 pelo projeto conjunto Moverse que Karennys e Eunice entenderam que a iniciativa liderada por elas poderia ser beneficiada com financiamento público específico para projetos culturais.

“Nós nem sequer sabíamos o que era um projeto” – A fala de Eunice traduz a transformação vivenciada ao longo desse processo. A partir da oficina, as duas redigiram um documento com os objetivos do projeto e o inscreveram em uma seleção da Lei Paulo Gustavo, organizada pela prefeitura de Boa Vista.

O projeto Raízes Folclóricas foi selecionado e contemplado com um fundo de R$ 4 mil. O valor apoiou as idealizadoras na aquisição de diferentes itens para execução das atividades, como tecidos para confecção de roupas tradicionais. Atualmente a iniciativa reúne cerca de 10 crianças, que se encontram duas vezes na semana e já realizou uma série de apresentações em eventos e escolas na capital de Roraima.

“Esse grupo também nos ajudou a nos relacionar com os brasileiros e a ter mais o que compartilhar, pois, devido à diversidade e à interculturalidade, a experiência foi muito boa de ser compartilhada com os brasileiros”, avalia Karennys.

Os resultados vão além. As idealizadoras do Raízes Folclóricas estão entre as 600 pessoas selecionadas em todo o país pelo projeto “Pesquisa-ação: Agentes Culturais Democráticos”, financiado pelo Ministério da Cultura. Além de promover o diálogo e a troca de conhecimento entre os fazedores de cultura de diferentes regiões, o projeto também realiza atividades formativas para o fortalecimento de capacidades desses agentes culturais.

Para o futuro, Karennys e Eunice sonham que o Raízes Folclóricas tenha uma sede própria, onde muitas outras crianças e mulheres possam ser acolhidas. “Imaginamos que esse espaço não seja somente um ponto de cultura, mas um ponto de apoio para as mulheres. Que tenha muitas flores, pinturas, música e arte. Que seja um mundo diferente”, diz Eunice.
Conheça a história de Karennys e Eunice neste vídeo:

Sobre o Moverse – Moverse é uma iniciativa implementada pela Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), ONU Mulheres e Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), com o apoio do Governo de Luxemburgo, que há cinco anos é parceiro das instituições na implementação de projetos que contribuem para a construção de políticas e estratégias com foco no empoderamento econômico das mulheres refugiadas e migrantes vivendo no Brasil.

Em sua nova fase, o programa amplia o olhar sobre as mulheres refugiadas e migrantes de diferentes nacionalidades, visando o apoio técnico ao governo federal no desenvolvimento de políticas públicas sensíveis aos direitos humanos e ao gênero.