Comissária Interamericana de Direitos Humanos da OEA faz, a partir de 3ª feira (27), reuniões com mulheres negras no Rio, São Paulo e Salvador sobre racismo no Brasil
26.09.2016
Audiências ocorrerão entre 28 e 30 de setembro com ativistas negras. Encontros são para convidadas e serão acompanhados pelo Grupo Temático das Nações Unidas sobre Gênero, Raça e Etnia. Missão de Margarette May Macaulay, Relatora sobre os Direitos das Mulheres e sobre os Direitos de Afrodescendentes da Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA (Organização dos Estados Americanos), inclui reuniões sobre liberdade de expressão, em Brasília
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Margarette May Macaulay, Comissária Interamericana de Direitos Humanos e Relatora sobre os Direitos das Mulheres e sobre os Direitos de Afrodescendentes da OEA
Foto: OEA
Os direitos humanos das mulheres negras estão na agenda da relatora da Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA), Margarette May Macaulay, que iniciará a sua agenda pública da missão ao Brasil nesta terça-feira (27/9), às 18h, no Rio de Janeiro. Na ocasião será realizada audiência aberta ao público, especialmente organizações de direitos humanos, no Hotel Galé (Rua Riachuelo, 124), no Rio de Janeiro.
No dia seguinte, 28, a partir das 9h, haverá audiência fechada em que um grupo de mulheres negras convidadas pelas ONGs Criola e Geledés apresentará à Comissária relatos de violência e violação de direitos humanos que ilustram a realidade local e nacional destacada no Dossiê “A Situação dos Direitos Humanos das Mulheres Negras no Brasil: violência e violações”. O dossiê foi apresentado em abril deste ano por Criola e Geledés à OEA, durante o 157° Período de Sessões da CIDH. Salvador (29) e São Paulo (30) são os próximos destinos para audiências públicas da relatora com ativistas negras. As audiências são fechadas a organizações convidadas.
Jurema Werneck, uma das coordenadoras da ONG Criola e integrante da AMNB, adianta os temas: violência contra a juventude negra, violência contra mulheres e meninas, a situação das mulheres encarceradas, violência contra mulheres trans e travestis, moradoras de favela, morte materna e zika. “A nossa expectativa é deixar a chama acesa. Quando apresentamos o dossiê, em abril, a relatora imediatamente abriu tempo, pediu mais informações e a partir delas questionou o governo brasileiro. O desdobramento disso é a vinda dela aqui para ver mais e para saber mais. O governo brasileiro está em dívida com as mulheres negras brasileiras há um tempo”, afirma Jurema Werneck.
As mulheres negras são 25% da população brasileira, somando mais de 49 milhões de pessoas. Em novembro de 2015, cerca de 50 mil militantes fizeram o ato político Marcha das Mulheres Negras contra o Racismo e a Violência e pelo Bem Viver. Como desdobramento da marcha, as ativistas estão fazendo incidência política internacional. No início de setembro, as lideranças entregaram à diretora executiva da ONU Mulheres, Phumzile Mlambo-Ngcuka, o Dossiê das Mulheres Negras e realizaram lançamento do dossiê durante o 13º Fórum da AWID. O Fórum contou com a participação de cerca de duas mil mulheres de todo o mundo.
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No início deste mês, ativistas entregaram o Dossiê Mulheres Negras para a diretora executiva da ONU Mulheres, Phumzile Mlambo-Ngcuka
Foto: ONU Mulheres/Isabel Clavelin
O documento reúne casos de mulheres negras que tiveram os seus direitos humanos violados: racismo no acesso à justiça, violência e assassinato de mulheres negras, negligência no sistema de saúde, impacto do vírus zika na população negra, violência política, conflitos em terras quilombolas, ataques racistas na internet, violência racial contra a juventude negra.
“Estivemos novamente com a Phumzile, na Bahia. A nossa ideia é criar uma agenda com as multilaterais, porque não tem governo municipal, estadual e federal que vá responder à nossa demanda. Muito pelo contrário, está ficando muito pior a cada dia”, avalia Jurema Werneck sobre a importância dos organismos internacionais na defesa de acordos internacionais, tais como a Convenção para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, Convenção para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e Plano de Ação de Durban.
A agenda da relatora da OEA será acompanhada pelo Grupo Temático de Gênero, Raça e Etnia das Nações Unidas no Brasil. A participação das representantes do movimento de mulheres negras brasileiras e a editoração e impressão do dossiê contaram com apoio do GT como parte de seu Plano de Trabalho para a Década Internacional de Afrodescendentes, para enfrentamento ao racismo e à promoção da garantia de direitos da população negra no mundo até 2024. O plano também visa promover ações para visibilizar e enfrentar o racismo institucional, reduzir a mortalidade da juventude negra e reconhecer e valorizar contribuições ao desenvolvimento por parte da população negra.