“Com emprego, posso voltar a sonhar com meu futuro”, afirma refugiada empregada em São Paulo
03.12.2022
Elizabeth é venezuelana e possui deficiência nos membros inferiores; depois de realizar cursos em Roraima, ela foi contratada por um shopping e mudou para a capital paulista
O dia 3 de dezembro é marcado como o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 15% de toda a população mundial têm algum tipo de deficiência – física, mental, intelectual ou sensorial. Em situações de deslocamento, essas pessoas enfrentam barreiras ainda maiores – não apenas com relação à mobilidade, mas também de acesso a direitos fundamentais, como saúde, trabalho decente e segurança. Embora pessoas com deficiência em contextos de deslocamento ainda sejam sub-identificadas, suas necessidades têm estado nos planos de ação em resposta aos fluxos migratórios em todo o mundo – inclusive em Roraima, por onde milhares de pessoas vindas da Venezuela chegam ao Brasil em busca de novas oportunidades.
Elizabeth é uma dessas pessoas. A venezuelana e a irmã gêmea passaram por complicações no momento do parto, que as deixaram com paralisia e limitações no movimento das pernas. Antes de vir para o Brasil com a família, Elizabeth passou por experiências difíceis no país natal. Ainda criança, trabalhava como empregada doméstica, fazendo limpeza, lavando roupa e cozinhando – uma rotina pesada, que acabou agravando as dores e sua mobilidade, e fez com que ela abandonasse a escola.
Ao lado da irmã, da mãe e da avó, Elizabeth chegou ao Brasil há quatro anos, pela fronteira de Roraima. Em Boa Vista, ela teve acesso aos cursos do Empoderando Refugiadas, projeto com foco na empregabilidade de mulheres refugiadas no Brasil, implementado pelo ACNUR, a Agência da ONU para Refugiados, pelo Pacto Global e pela ONU Mulheres. A iniciativa é apoiada pela ONU Mulheres por meio do Moverse, programa implementado conjuntamente por ACNUR, ONU Mulheres e Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), com o apoio do Governo de Luxemburgo. Por dois meses, ela recebeu formação para ingressar no mercado de trabalho brasileiro e suporte para fazer os documentos necessários para sua contratação – processo apoiado também por meio do programa conjunto.
“Fiz minha carteira de trabalho, meus documentos. Participei dos cursos e depois soube dessa oportunidade de vir para São Paulo”, lembra Elizabeth. Há um ano, ela e a família passaram pelo processo de interiorização – ela, com uma vaga de emprego sinalizada no Shopping Iguatemi. Desde então, ela tem trabalhado no fraldário do shopping, em uma rotina adequada para sua condição física.
Com um emprego formal, ela conseguiu retornar aos estudos e faz planos. “Eu gosto de ouvir música, de fazer artesanato, quero um dia aprender a tocar piano. Estou terminando o ensino médio agora e quero fazer faculdade de Veterinária. Aqui em São Paulo, estou aprendendo muita coisa, coisas que eu nem fazia ideia que um dia eu iria conseguir”, comemora. “Na Venezuela, eu era uma menina que não saía de casa. Essa oportunidade me abriu novos horizontes. Hoje eu consigo trabalhar em um lugar tranquilo, não faço muito esforço físico. Com o que ganho, posso viver bem com a minha família e posso voltar a sonhar com o meu futuro”.
Sobre o Moverse – Iniciado em setembro de 2021, o programa conjunto Moverse – Empoderamento Econômico de Mulheres Refugiadas e Migrantes no Brasil é implementado pela Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), ONU Mulheres e Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), com o apoio do Governo de Luxemburgo. O objetivo geral do programa, com duração até dezembro de 2023, é garantir que políticas e estratégias de governos, empresas e instituições públicas e privadas fortaleçam os direitos econômicos e as oportunidades de desenvolvimento entre venezuelanas refugiadas e migrantes. Para alcançar esse objetivo, a iniciativa é construída em três frentes. A primeira trabalha diretamente com empresas, instituições e governos nos temas e ações ligadas a trabalho decente, proteção social e empreendedorismo. A segunda aborda diretamente mulheres refugiadas e migrantes, para que tenham acesso a capacitações e a oportunidades para participar de processos de tomada de decisões ligadas ao mercado laboral e ao empreendedorismo. A terceira frente trabalha também com refugiadas e migrantes, para que tenham conhecimento e acesso a serviços de resposta à violência baseada em gênero. Para receber mais informações sobre o Moverse e sobre a pauta de mulheres refugiadas e migrantes no Brasil, cadastre-se na newsletter do programa em http://eepurl.com/hWgjiL