“Ativismo nas ruas e nas artes”, artigo da ONU Mulheres e do Museu de Arte Moderna de São Paulo
08.03.2018
Artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, em 8 de março de 2018, por ocasião do Dia Internacional da Mulher
Por Nadine Gasman e Milú Villela
Neste Dia Internacional da Mulher, é hora de concentrar esforços no mundo inteiro para a reafirmação de nossos direitos.
Palavras contra o machismo e outras formas de opressão ecoam nos grandes centros e em lugares distantes com a potência de um novo tempo, o tempo de mudar.
Gerações de mulheres têm dedicado a vida a enfrentar o patriarcado em casa, nas ruas, no trabalho, em escolas, nas redes e nas artes. Por muito tempo, a presença feminina nas artes visuais restringiu-se à representação de sua imagem, muitas vezes erotizada e reduzida ao fenótipo de indivíduos brancos.
Como outras formas de expressão, a arte ocidental orientou-se por valores patriarcais, tendo sido feita por homens, financiada por homens e destinada ao deleite dos homens.
Mulheres artistas foram deixadas de fora dos livros, das coleções e das salas de museus, instituições criadas por homens para preservar valores patriarcais. Assim como a história social, a história da arte vem sendo construída sem proceder a uma revisão profunda dos valores que a ancoram.
É hora de a arte assumir responsabilidade sobre a questão da equidade de gênero. As estruturas conservadoras, contudo, não se deixam modificar sem resistência. Assim, é necessário ter a consciência de que essa mudança exige a redistribuição das forças políticas que governam as instituições dominantes no mundo da arte.
As ações contestatórias já estão sendo embasadas por dados empíricos crescentes que evidenciam situação de sub-representação de mulheres em coleções públicas e privadas, sua desvalorização comparativa no mercado de arte e sua sub-representação na bibliografia e em cursos sobre a história artística.
A partir dessas constatações objetivas, instituições de arte ao redor do mundo não podem mais se eximir de ações inclusivas.
No mês das mulheres, o MAM e a ONU Mulheres realizam um dia de atividades que se inscrevem no escopo do Movimento ElesPorElas-HeForShe, liderado pela Organização das Nações Unidas em escala global.
A inserção do MAM na agenda mundial da Semana de Artes HeForShe enfatiza a necessidade de os museus promoverem a igualdade de gênero.
Ações nesse sentido fortalecem a representação das mulheres no campo das artes visuais, propagando noções essenciais ao equilíbrio das sociedades contemporâneas, como identidade de gênero, raça, etnia e orientação sexual.
Vivemos um momento de transformações —e estas não podem acontecer sem que se renove a maneira como a arte é criada, curada, exibida e consumida.
As artes refletem o tempo das sociedades. A história que estamos vivendo hoje não poderá ser contada sem a pluralidade de gênero.
Milú Villela, psicóloga, é presidente Museu de Arte Moderna de São Paulo, e Nadine Gasman, médica, é representante da ONU Mulheres Brasil