ACNUR e ONU Mulheres lançam plano que promove empregos para mulheres venezuelanas em famílias monoparentais
27.07.2022
Iniciativa irá mobilizar empresas e organizações envolvidas em ações de empregabilidade, além de oferecer apoio financeiro e acompanhamento de refugiadas e migrantes durante a adaptação e integração socioeconômica
Mulheres refugiadas e migrantes, em especial venezuelanas que estão em Roraima sozinhas com seus filhos e filhas, ganharam uma nova ferramenta de apoio à integração social e econômica no Brasil. Em julho, o ACNUR, Agência da ONU para Refugiados, e a ONU Mulheres iniciam um plano conjunto para conseguir vagas de empregos para essas mulheres em outros estados do país – no processo chamado de interiorização.
O plano pretende tornar histórias como a da venezuelana Karlirys um pouco menos duras. Aos 25 anos, ela chegou a viver nas ruas de Boa Vista (RR) com os dois filhos. Há cerca de um ano, ela foi interiorizada para o Rio de Janeiro, onde conseguiu abrigo por alguns meses, mas nenhum emprego – em especial, por não contar com uma rede de apoio com quem pudesse deixar as crianças enquanto buscava trabalho. Foi no abrigo que ela teve acesso a um curso de corte e costura e, a partir da sua dedicação durante o treinamento, conseguiu um emprego em uma empresa que produz para grandes marcas do vestuário. Mesmo com a dificuldade da jornada diária de oito horas de trabalho, e o cuidado com os filhos e a casa, o emprego oferece para a família a vida melhor que Karlirys veio buscar no Brasil. “A importância de ter um emprego é que me ajuda. O mais importante é que estou dando o melhor para meus filhos”, diz.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de cada 5 casas no Brasil onde as mulheres são as únicas provedoras, 3 estão abaixo da linha da pobreza. Também de acordo com o IBGE, um terço das mulheres no Brasil de 16 a 29 anos que não estudam nem trabalham estão nessa situação em virtude da responsabilidade assumida com tarefas domésticas de cuidado. Entre as mulheres refugiadas e migrantes, esse quadro tende a ser agravado pelo desconhecimento sobre mercado e leis trabalhistas brasileiras, além da falta de uma rede de apoio para que elas consigam sair em busca de um emprego. Dados divulgados pela Operação Acolhida – resposta liderada pelo governo brasileiro ao fluxo de pessoas venezuelanas deslocadas – apontam que os homens têm três vezes mais chances de serem interiorizados com uma vaga de emprego sinalizada em comparação com as mulheres refugiadas e migrantes.
Cientes dessas dificuldades, ACNUR e ONU Mulheres irão identificar os perfis das famílias monoparentais chefiadas por mulheres nos abrigos de Roraima e, a partir desse levantamento, atuarão em quatro frentes – duas diretamente com as empresas, e duas apoiando e acompanhando as mulheres que forem beneficiadas pelo plano.
Ação com empresas – a partir de plataformas já existentes, como Empresas com Refugiados, o programa conjunto Moverse, e os Princípios de Empoderamento das Mulheres (WEPs), o ACNUR e a ONU Mulheres irão sensibilizar empresas que participam dessas iniciativas para que mais oportunidades sejam oferecidas a mulheres refugiadas e migrantes que estão como únicas responsáveis por crianças e adolescentes.
Além disso, haverá o estímulo ao desenvolvimento de políticas internas que promovam a igualdade de oportunidades e de responsabilidades entre homens e mulheres, como sensibilizações sobre redistribuição dos trabalhos de cuidado, apoio para custeamento de creches e escola, e oferecimento de espaços educativos e de cuidados para filhos e filhas dentro das próprias empresas.
Ação com mulheres – junto com a Operação Acolhida, serão identificadas mulheres que querem ser interiorizadas e que sejam as únicas responsáveis por crianças e adolescentes, assim como processos seletivos em que elas possam participar. Uma vez selecionadas, ACNUR e ONU Mulheres oferecerão treinamento e informação para que essas mulheres estejam preparadas quando chegarem ao destino – com instruções, por exemplo, sobre como acessar serviços e redes de proteção. Além disso, será disponibilizado um auxílio financeiro para cobrir as despesas por três meses, tempo em que a mulher e sua família estiverem se adaptando à nova cidade.
Uma vez empregadas e adaptadas ao novo local, as mulheres serão acompanhadas pelo ACNUR e pela ONU Mulheres, a fim de avaliar e aprimorar o plano de trabalho conjunto. Nesse mesmo intuito, as empresas empregadoras receberão treinamentos e consultorias por seis meses após a contratação das mulheres refugiadas e migrantes.
Como participar – a participação das mulheres se dará a partir de trabalho de identificação feito com a Operação Acolhida em Roraima. Já para as empresas que tiverem interesse em participar da iniciativa, é possível entrar em contato pelos e-mails tarantin@unhcr.org e flavia.muniz@unwomen.org. Não há custo para a participação, porém, a empresa necessita passar por uma avaliação prévia e firmar compromisso público voltado para o empoderamento de mulheres refugiadas e migrantes no Brasil.