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Brasil

A voz das mulheres indígenas no Acampamento Terra Livre



27.04.2017


Participação na programação oficial do ATL se iniciou em 2016, quando mulheres integrantes do projeto Voz das Mulheres Indígenas organizaram uma plenária específica para discutir e validar a Pauta Nacional das Mulheres Indígenas

A voz das mulheres indígenas no Acampamento Terra Livre/

Mulheres indígenas organizaram na terça-feira (25/4) uma plenária dedicada às pautas específicas de mulheres, pela segunda vez na história do Acampamento Terra Livre (ATL), evento que está em sua 14ª edição e reúne 3 mil indígenas de todo o país em Brasília-DF, de 24 a 28 de abril.

Segundo Ro’otsitsina Xavante, da REJUIND e integrante do Grupo de Referência do projeto Voz das Mulheres Indígenas, as mulheres sempre se reuniram no ATL, mas é a segunda vez que conquistam um espaço na programação oficial. “Este é um momento de visibilidade e de fortalecimento para nós mulheres”, diz.

Ro’otsitsina também conta que a participação das mulheres aumentou neste segundo ano, em especial a das mulheres jovens, que estão curiosas em conhecer e participar desse empoderamento político.

A participação na programação oficial do ATL se iniciou em 2016, quando mulheres integrantes do projeto Voz das Mulheres Indígenas organizaram uma plenária específica para discutir e validar a Pauta Nacional das Mulheres Indígenas. A partir dali houve uma série de incidências delas em processos locais, estaduais e nacionais em conferências de políticas indigenistas e na Conferência de Políticas para as Mulheres (CNPM).

O projeto Voz das Mulheres Indígenas é realizado por lideranças indígenas e pela ONU Mulheres, com apoio da Embaixada da Noruega. A iniciativa incentiva o empoderamento das mulheres e sua participação política em todas as esferas de decisão. Mulheres de mais de cem povos participam do programa.

Este ano, o tema da Plenária das Mulheres Indígenas no ATL foi a etapa ampliada da 1ª Conferência Livre de Saúde das Mulheres Indígenas. As discussões advindas da 1ª Conferência Livre foram debatidas e validadas na plenária. As propostas vão alimentar a Conferência Nacional de Saúde das Mulheres, a ser realizada pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS) no segundo semestre deste ano.

A voz das mulheres indígenas no Acampamento Terra Livre/

Na abertura da plenária, as organizadoras convidaram as mulheres presentes a contribuir com a pauta que será levada à Conferência Nacional de Saúde das Mulheres. “Para falar da saúde da mulher, a mulher tem que estar presente. É muito importante que as mulheres participem dessa construção com os parentes, porque só as mulheres sabem as preocupações que lhes concernem e quais são as suas especificidades”, disse Kuiaiu Yawalapiti, da Associação Yamurikumã das Mulheres Xinguanas, na abertura do evento.

Dentre os pontos apresentados na conversa estão a ampliação de recursos para os hospitais que atendem a população indígena, o acesso a anticoncepcionais e outras formas de prevenção da gravidez, a prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e do câncer de colo do útero, o atendimento às mulheres vítimas de violência, a capacitação de agentes da saúde e a qualidade da alimentação e da água para a manutenção da saúde da população indígena.

A plenária foi marcada pela busca de voz e participação das mulheres indígenas nos espaços de poder. “Vamos voltar às bases e brigar para participar dessas conferências. A mulher não sabe somente fazer comida, não. A mulher pode fazer de tudo. A mulher tem que ficar no lugar que ela quiser. Nós temos autonomia de decidir o que queremos. Vamos levantar mulheres! Vamos andar junto com os homens! Não queremos ficar atrás dos homens, queremos andar lado a lado. Queremos discutir políticas públicas voltadas para as mulheres indígenas”, disse Dorinha Pankará.

Para além do esforço em mobilizar as mulheres indígenas para que se tornem delegadas municipais, estaduais e nacionais -posição esta que lhes garante o voto- na Conferência de Saúde das Mulheres Indígenas, este ano a SESAI (Secretaria Especial de Saúde Indígena do Ministério da Saúde) levará uma carta à Conferência elaborada pelas mulheres indígenas.

A plenária se encerrou com as mulheres em roda, numa dança em homenagem à Rosane Kaingang, importante ativista indígena e uma das fundadoras da Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), que morreu em outubro de 2016. “Rosane estava à frente da sua época. Ela sempre esteve nos debates, em todas as discussões e nos espaços de tomada de decisão. Ia para o embate mesmo, se colocava. Por mais que não houvesse ainda uma diplomacia, ela dava o recado. Ela doou praticamente a sua vida para o movimento indígena. Este é o primeiro ano sem Rosane no Acampamento Terra Livre”, diz Ro’otsitsina.

O tema do ATL em 2017 é “Unificar as lutas em defesa do Brasil indígena: pela garantia dos direitos originários de nossos povos”. O encontro aborda desafios como a paralisação das demarcações indígenas, o enfraquecimento das instituições e políticas públicas indigenistas e as proposições legislativas que tramitam no Congresso consideradas anti-indígenas.

O ATL é promovido pela APIB, Mobilização Nacional Indígena e tem o apoio de organizações indígenas, da sociedade civil e outros movimentos sociais parceiros

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