90% das grávidas querem testes para saber se tiveram zika; 52% demandam maior acesso a ultrassons
02.08.2016
Pesquisas inéditas realizadas com mulheres grávidas revelam insatisfação com a falta de acesso a exames e a informações sobre as formas de contágio e prevenção ao zika vírus e seus efeitos sobre o desenvolvimento dos bebês
O zika vírus ganhou relevância no debate público e em fevereiro foi considerado uma emergência global pela Organização Mundial da Saúde, em função da associação entre a presença do vírus em gestantes e a síndrome congênita em recém-nascidos, cuja manifestação mais evidente em um primeiro momento era a microcefalia.
Embora as mulheres estejam no centro da epidemia de zika, suas demandas e direitos estão fora do foco principal do debate público. Ante essa lacuna e a urgência na garantia de direitos, o Instituto Patrícia Galvão realizou duas pesquisas de opinião para mapear como as mulheres grávidas têm lidado com o assunto, buscando trazer suas perspectivas para o centro da discussão sobre as políticas públicas de saúde, planejamento familiar e saneamento básico.
A pesquisa quantitativa, realizada em julho pelo Instituto Patrícia Galvão, em parceria com o aplicativo BabyCenter, obteve resposta de 3.156 usuárias que se encontravam grávidas ao responder o questionário.
Para a pesquisa qualitativa, o Instituto Patrícia Galvão realizou entre março e abril seis grupos de discussão com mulheres grávidas das classes CD, que acompanhavam sua gravidez pelo SUS em três cidades brasileiras: Recife, João Pessoa e São Paulo. (saiba mais).
As pesquisas foram realizadas pelo Instituto Patrícia Galvão, em parceria com os institutos Data Popular e Locomotiva, com apoio da ONU Mulheres e da Fundação Ford.
Acesso a exames e informações – Essa é a principal reivindicação da maioria das mulheres grávidas no Brasil – grupo que está no centro da emergência global da síndrome congênita do zika, mas cujas demandas têm sido pouco priorizadas nas políticas públicas e na cobertura jornalística sobre o tema.
A pesquisa inédita, realizada com mulheres grávidas usuárias do aplicativo Baby Center – ferramenta digital que disponibiliza informações sobre gravidez e bebês, revelou que 90% das mulheres gostariam de realizar o teste para saber se tiveram zika durante a gravidez. (links 5 testes Anvisa/Ans obriga planos)
Diante de um cenário em que ciência e medicina ainda apontam mais dúvidas do que certezas sobre o impacto da epidemia sobre as mulheres e sobre os bebês em gestação, 52% das grávidas afirmam que gostariam de ter feito mais exames de ultrassom durante a gestação para acompanhar o desenvolvimento dos bebês. Entre as que faziam o pré-natal no SUS esse percentual atinge 70%, ante 43% das assistidas por convênios médicos particulares.
Falta de informação se traduz em angústia durante a gravidez – A pesquisa quantitativa revela ainda que praticamente um terço das grávidas (32%) que já iniciaram o pré-natal ainda não havia recebido orientações sobre o zika vírus.
Com isso, apesar de 62% das mulheres afirmarem saber que o bebê pode vir a ter problemas de saúde caso a mãe tenha zika, faltam informações que podem ser decisivas para a prevenção: 33% acreditam, por exemplo, que o contágio do feto ocorre apenas nos primeiros três meses – hipótese que chegou a ser cogitada cientificamente, mas que já está sendo afastada.
Outra questão importante captada na pesquisa é a distância entre a perspectiva e a demanda das mulheres e as políticas públicas que vêm sendo implementadas no Brasil. Enquanto as ações do setor público focam em campanhas para o combate à proliferação do mosquito Aedes aegypti, as mulheres querem ter acesso a testes, exames, contraceptivos, repelentes e orientações precisas sobre como evitar o contágio em si mesmas e em seus bebês.
A pesquisa revela uma forte demanda por políticas de saneamento básico: 100% das mulheres afirmam que a falta de serviços de água, esgoto e coleta de lixo pode causar doenças e 90% apontam o governo municipal como o responsável por esses serviços.
Outra lacuna identificada pela pesquisa refere-se às políticas de planejamento familiar, em especial o acesso a contraceptivos de curta e longa duração: apenas 32% das mulheres disseram que sua gravidez foi planejada.
Para a diretora-executiva do Instituto Patrícia Galvão, Jacira Melo, as incertezas e angústias revelam a necessidade de políticas públicas e ações informacionais mais eficazes e que sejam formuladas a partir da demanda das mulheres que estão no centro da epidemia. “Somente essas mulheres podem nos ajudar a entender como o sistema de saúde as acolhe e quais são as estratégias que podem ser acionadas para lidar com a questão”, frisa. Para Jacira Melo, o “Estado brasileiro demonstra baixa prontidão frente ao drama e aos direitos das mulheres à informação e a respostas do sistema de saúde”.