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A ONU Mulheres é a organização das Nações Unidas dedicada à igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres.

Brasil

1º Fórum WEPs no Rio de Janeiro traz panorama de desafios e soluções para empoderamento das mulheres no setor privado



12.07.2017


Evento reuniu empresas signatárias dos Princípios de Empoderamento das Mulheres. No mesmo dia, a empresa In Press Porter Novelli se tornou a mais nova signatária dos WEPs

1º Fórum WEPs no Rio de Janeiro traz panorama de desafios e soluções para empoderamento das mulheres no setor privado/principios de empoderamento das mulheres noticias direitosdasmulheres

Fórum sobre os Princípios de Empoderamento das Mulheres foi promovido, no Rio de Janeiro, pela ONU Mulheres e Pacto Global com apoio da White Martins
Foto: Erik Barros Pinto

Os diversos desafios, mas também as variadas soluções, para se atingir a equidade de gênero no setor privado, deram a tônica da primeira edição no Rio de Janeiro do Fórum sobre os Princípios de Empoderamento das Mulheres, o Fórum WEPs (de Women Empowerement Principles) no dia 3 de julho. Promovido pela ONU Mulheres e pela Rede Brasil do Pacto Global da ONU, com apoio e patrocínio da White Martins, o encontro trouxe executivas e executivos, especialistas e representantes de organizações internacionais e ONGs para compartilhar experiências e debater maneiras de incrementar o empoderamento das mulheres nos negócios e na sociedade.

“O Fórum WEPs é uma forma de levar a discussão adiante, apresentar boas práticas e agradecer a parceria de todas e todos”, definiu Adriana Carvalho, gerente de Princípios de Empoderamento das Mulheres da ONU Mulheres. “Há metas para a igualdade de gênero transversalizadas em 12 dos 17 os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. O trabalho em rede, e o envolvimento do setor privado, é fundamental para alcançá-las”, completou.

Ao abrir o evento, Domingos Bulus, presidente da White Martins, ressaltou a iniciativa da empresa no desenvolvimento de um ambiente de trabalho inclusivo, que coloca a diversidade na estratégia de negócios desde a seleção para estágios, e como isto é levado a todos e a todas as lideranças. “Toda a diretoria participa. Ainda que alguns não vejam com a dimensão que gostaríamos, estamos trabalhando para isso. Algumas pessoas precisam ser pautadas. Nunca desistam, porque este movimento não pode parar. Pautem seus chefes, pautem seus pares em temas de inclusão e de diversidade. As pessoas aprendem, nem que seja por osmose”, afirmou.

Vanessa Tarantini, assessora de Direitos Humanos e Anticorrupção da Rede Brasil do Pacto Global, lembrou a última edição do Fórum, realizada há três meses em São Paulo, e ressaltou alguns dados sobre participação das mulheres nas lideranças do setor privado. “Há pesquisas indicando que, quando há participação das mulheres na diretoria de uma empresa, ela se torna mais lucrativa. Porém, no ritmo atual, ainda vamos demorar um século para atingir o equilíbrio em lideranças”, informou. Tarantini também apresentou a plataforma online WEPs Gap Analysis Tool. “O empoderamento das mulheres é a maior plataforma temática do Pacto Global”, informou.

Assista ao vídeo do Fórum WEPs São Paulo

Os mais de 150 presentes, muitos representando as mais de cem empresas signatárias dos Princípios de Empoderamento das Mulheres no Brasil, viram a lista de corporações compromissadas ganhar mais um nome: a agência de comunicação In Press Porter Novelli.

“Já temos uma parceria de longa data com a ONU Mulheres, e fico honrada de assumir formalmente o compromisso. O mercado de comunicação tem uma forte presença de mulheres – na In Press são 79% de colaboradoras – mas ainda há barreiras, em especial nos cargos de liderança”, detalha Kiki Moretti, CEO do Grupo In Press. “A boa notícia é que há uma demanda crescente também dos clientes por mais equidade”, completou.

Alta liderança – O baixo número de mulheres na liderança também foi identificado por Denise Hills, superintendente de de Sustentabilidade e Negócios Inclusivosdo Itaú Unibanco. “Temos a ambição de ser uma empresa 50%-50%, com equilíbrio entre mulheres e homens. Há uma forte presença das mulheres nas agências bancárias, mas, à medida que subimos na hierarquia, a participação diminui. Estamos enfrentando esse problema, e a dica que eu deixo é: entenda o contexto em que você opera. Às vezes, quem está com privilégios não tem consciência, então ajude a fazer perceber”, disse, ao participar da mesa sobre Alta Liderança.

Presente no mesmo debate, Anna Paula Rezende, diretora de Talentos e Sustentabilidade da White Martins, ressaltou que as empresas devem se questionar. “E atuar de forma assertiva. Se alinhem a instrumentos da ONU, como os WEPs, e a outros mecanismos. Promovam ações de inclusão não só de gênero, mas de etnias e LGBTs”, disse, informando que os processos seletivos na companhia sempre buscam equilíbrio no número de candidatas e candidatos, e que há vagas de estágio exclusiva para afrodescendentes.

Equidade entre candidatas e candidatos em uma seleção também é realidade na Enel, como informou Marcia Massoti, diretora de Sustentabilidade da corporação. “E olha que somos tradicionalmente uma empresa de homens brancos engenheiros. A grande mudança foi engajar os diretores, apoiada pela chegada de um novo CEO que tem uma visão inclusiva”, disse. “O setor de energia é o que menos inovou, e o que mais precisa inovar nos próximos cinco anos. Como queremos fazer diferente com as mesmas pessoas, com o mesmo perfil? Diversidade é fundamental para a inovação”.

Tratamento igualitário – Além de processos de recrutamento, o Fórum WEPs também tratou da saída de funcionárias das empresas – mais exatamente, as razões para o pedido de demissão, e como reter talentos. Este é o tema da pesquisa apresentada por Rodrigo Vianna, sócio da agência de recrutamento Talenses.

“Acredito que o papel de uma consultoria de recrutamento é influenciar a sociedade em direção da equidade. Por isso promovemos a pesquisa. Muitos CEOs acreditam que a motivação principal é remuneração, ou outras oportunidades. Mas a pesquisa mostra que esta é a última razão. As principais são equilíbrio entre a vida pessoal e a profissional, qualidade de vida e conexão e envolvimento com a liderança”, relata Vianna. “Nas entrevistas, fica claro como atitudes simples, como conversar com as colaboradoras ou incluí-las em atividades com os demais diretores, fazem a diferença. Enfim, oferecer um tratamento igualitário”, pontuou.

Às vezes, só isso não é suficiente, como relata Ana Paula de Almeida Santos, diretora Jurídica da Assurant Brasil: “Eu era a única mulher na diretoria da empresa, e nunca tive um tratamento diferenciado. O ambiente era amigável, mas não havia justiça em ser a única ali”. Após integrar um fórum de liderança feminina em Harvard, Ana Paula desenvolveu uma rede de conexão e troca de informação entre as funcionárias da empresa, o que colaborou para que mais mulheres conquistassem cargos de liderança. No fim de 2016, a empresa se tornou 50%-50%.

Patrícia Moura, gerente de Planejamento da Heads Propaganda, apresentou a terceira onda de resultados da pesquisa “Todxs – Uma análise de representatividade na publicidade brasileira”, que analisou peças publicitárias na TV e nas mídias sociais e concluiu que há um grande desequilíbrio em como mulheres são apresentadas no meio, com uma forte concentração em certos biótipos. “Não mostrar é não dar valor. A publicidade não está mostrando a realidade, que é muito mais diversa. Somos parte do problema, mas também da solução. O caminho é mostrar, empoderar essas mulheres para empoderar a sociedade”, alertou. A quarta fase da pesquisa está em desenvolvimento.

A representação desbalanceada na mídia também foi tema da participação de Virginia Any, diretora Comercial do Grupo Globo, que apresentou o livro “Mulheres, um século de transformação”, compilado pela empresa com base nos seus arquivos. “A imprensa tem a obrigação de colocar o assunto em pauta e promover a discussão. E levar o debate aos homens, já que precisamos do apoio deles”, comentou.

Engajamento dos homens – O engajamento dos homens centrou a apresentação de Daniele Botaro e Renata Moraes, diretoras da Impulso Beta, empresa de inteligência de gênero. Foi demonstrado o Liderabeta Men, uma plataforma de liderança inclusiva para homens, e que mostra porque a diversidade de gênero é boa para os negócios. “Uma pesquisa com nossos clientes mostrou que, em 2011, esse era um tema da agenda de 12% dos CEOs. Em 2015, passou para 64%”, detalharam as diretoras.

Outra plataforma apresentada foi a Springboard, rede internacional para o desenvolvimento de mulheres na liderança. Corinne Giely Eloi, diretora da Springboard no Brasil, apresentou o passo a passo do programa, e como ele influência uma progressão holística de lideranças femininas.

Giely Eloi conduziu em seguida uma série de depoimentos com mulheres em cargos de liderança, e desafios encontrados. Camila Nakagawa, diretora de Comunicação da BETC/Havas, detalhou o quanto mulheres são interrompidas, o que levou a empresa a desenvolver o app “Woman Interrupted”, que mede as interrupções. Gabriela Flores, Gerente do Hospital Sírio Libanês, relatou percalços para empoderamento na área de biomédicas. Thais Casaes, Gerente de Atendimento da Heads, contou sobre a relevância do tratamento dado pelos clientes da agência ao tema, e que já recusaram trabalhos por não se alinhar aos valores da empresa.

Adriana Carvalho, da ONU Mulheres, fez um recorte sobre racismo e gênero, e apresentou aos participantes o Guia de Enfrentamento ao Racismo Institucional, desenvolvido pela organização em parceria com a ONG Geledés. A versão on-line da publicação está disponível em racismoinstitucional.geledes.org.br.

Questões sobre responsabilidade social e perspectivas de gênero foram tratadas em um dos últimos debates. Isaura Morel, do Instituto Lojas Renner, apresentou o trabalho focado na cadeia têxtil, com ênfase na qualidade de vida das trabalhadoras no setor e inclusão de refugiadas, por meio do programa Empoderando Refugiadas, iniciativa coordenada pela Rede Brasil do Pacto Global em parceria com a ONU Mulheres e a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR).
Carine Roos, da UPTWI, ressaltou a carência de mulheres nos mercados de tecnologia e programação. “Quase 80% desistem no primeiro ano de faculdade. Das mulheres que chegam ao mercado, há duas vezes mais chances de desistir da área. Se forem negras, são quatro vezes mais”, enumerou. A organização promove workshops com empresas da área, apoio às mulheres que trabalham com tecnologia da informação e busca sempre ampliar a representatividade no setor.
Ana Tacine, do Instituto Coca-Cola, apresentou alguns produtos audiovisuais e de comunicação desenvolvidos sob a perspectiva de gênero, de acordo com os WEPs.

Como se tornar uma empresa signatária dos WEPs – Expressamente projetados para o negócio, os WEPs fornecem um método abrangente para alcançar a igualdade de gênero. Para participar, as empresas, pequenas ou grandes, são incentivadas a assinar a Declaração de Apoio de CEOs aos WEPs; usar os sete Princípios para avaliar as políticas e programas da empresa; desenvolver um plano de ação para integrar a perspectiva de gênero nos mecanismos existentes de prestação de informações identificando marcos de referência e indicadores; informar o progresso aos stakeholders e adotar a orientação de prestação de informações dos WEPs; entrar em contato com outras empresas e stakeholders para efetuar um trabalho de conscientização sobre os WEPs e promover sua implementação; compartilhar as boas práticas e lições aprendidas com outros; apoiar a iniciativa dos WEPs.

Conheça os sete Princípios de Empoderamento das Mulheres:

• Princípio 1: Estabelecer uma liderança corporativa de alto nível para a igualdade entre gêneros
• Princípio 2: Tratar todos os homens e mulheres de forma justa no trabalho – respeitar e apoiar os direitos humanos e a não discriminação
• Princípio 3: Assegurar a saúde, a segurança e o bem estar de todos os trabalhadores e trabalhadoras
• Princípio 4: Promover a educação, a formação e o desenvolvimento profissional para as mulheres
• Princípio 5: Implementar o desenvolvimento empresarial e as práticas da cadeia de abastecimento e de marketing que empoderem as mulheres
• Princípio 6: Promover a igualdade através de iniciativas comunitáras e de defesa
• Princípio 7: Medir e publicar relatórios dos progressos para alcançar a igualdade entre gêneros

Para saber mais, clique aqui para ler a cartilha WEPs.