28.03.14 – IPEA lança pesquisa sobre Tolerância Social à Violência contra as Mulheres
28.03.2014
Nesta quinta-feira, 27 de março, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) lançou a primeira pesquisa que mede a tolerância da sociedade brasileira em relação à violência contra as mulheres.
Segundo análise do próprio IPEA, os dados revelam que, de modo geral, a população brasileira ainda possui uma visão de família nuclear patriarcal em que o homem é percebido como o chefe da família e a esposa, por sua vez, deve “se dar ao respeito” e se comportar segundo o papel prescrito pelo modelo patriarcal heteronormativo. Apesar de considerarem que as “rusgas menores” devam ser resolvidas em casa, as pessoas se mostram contrárias às formas mais abertas e extremas de violência, defendendo a intervenção pública na esfera privada nesses casos, bem como a separação do casal e a punição dos maridos agressores.
A população parece reconhecer outras formas de violência, além da violência física, especialmente a psicológica e a patrimonial. No entanto, no que que se refere à violência sexual, a maioria das pessoas continua considerando que as próprias mulheres são as responsáveis, seja por usarem “roupas provocantes”, seja por não se comportarem “adequadamente”.
Segundo o estudo, “por maiores que tenham sido as transformações sociais nas últimas décadas, com as mulheres ocupando os espaços públicos, o ordenamento patriarcal permanece muito presente em nossa cultura e é cotidianamente reforçado, na desvalorização de todas as características ligadas ao feminino, na violência doméstica, na aceitação da violência sexual. A família patriarcal organiza-se em torno da autoridade masculina; para manter esta autoridade e reafirmá-la, o recurso à violência – física ou psicológica – está sempre presente, seja de maneira efetiva, seja de maneira subliminar”.
Metodologia
Em 2012, por meio do Grupo de Trabalho sobre Gênero, Raça e Etnia das Nações Unidas, a ONU Mulheres organizou uma oficina de trocas de experiência entre Brasil e Colômbia, que apresentou uma metodologia desenvolvida para medir a tolerância social e institucional à violência e uma grande pesquisa nacional realizada em 2009 com o objetivo de investigar hábitos, atitudes, percepções e práticas individuais, sociais e institucionais no que diz respeito à violência de gênero (saiba mais aqui).
Posteriormente, formou-se um grupo de trabalho entre ONU Mulheres, CFEMEA e Ipea para adaptar a metodologia utilizada na Colômbia e levantar possibilidades de realização da pesquisa no Brasil. Os resultados foram a aplicação de um questionário em serviços de atendimento às mulheres em situação de violência do estado do Rio de Janeiro, com o foco na concepção de “tolerância institucional”, realizado pelo CFEMEA (saiba mais), e de um questionário no âmbito do Sistema de Indicadores de Percepção Social (SIPS), do Ipea, para uma amostra representativa do conjunto da população brasileira, com o objetivo de se aferir uma “tolerância social”, ambos no ano de 2013.
Veja os principais dados obtidos:
Família e Casamento
63,8% das/os entrevistadas/os concordam totalmente ou em parte com a frase “os homens devem ser a cabeça do lar”.
78,7% acreditam que “toda mulher sonha em se casar”.
59,5% concordam que “uma mulher só se sente realizada quando tem filhos”.
33,6% dos respondentes concorda ou se mantém neutra sobre a afirmação de que “a mulher casada deve satisfazer o marido na cama, mesmo quando não tem vontade”.
54,9% concordam que “tem mulher que é pra casar, tem mulher que é pra cama”.
46,2% discordam que “um casal de dois homens vive um amor tão bonito quanto entre um homem e uma mulher”.
59% concordam total ou parcialmente com a afirmação de que “incomoda ver dois homens, ou duas mulheres, se beijando na boca em público.”
51,7% das pessoas entrevistadas concordam que “o casamento de homem com homem ou de mulher com mulher deve ser proibido”.
Percepção sobre violência doméstica
81,9% das/os respondentes concordam que “o que acontece com o casal em casa não interessa aos outros”.
78,7% concordam que “em briga de marido e mulher, não se mete a colher”.
89% concordam que “a roupa suja deve ser lavada em casa”.
63% acham que “casos de violência dentro de casa devem ser discutidos somente entre os membros da família”.
26% concordam que “mulher que é agredida e continua com o parceiro gosta de apanhar”.
33,9% concordam que “dá para entender que um homem que cresceu em uma família violenta agrida sua mulher”.
74,7% discordam que “é da natureza do homem ser violento”.
82,1% discordam da afirmação de que “a mulher que apanha em casa deve ficar quieta para não prejudicar os filhos”.
85% dos respondentes concordam que “quando há violência, os casais devem se separar”.
91,4% concordam que “o homem que bate na esposa tem que ir para a cadeia”.
73% discordam da afirmação de que “a questão da violência contra as mulheres recebe mais importância do que merece”.
Violência psicológica e patrimonial
68% concordam com “é violência falar mentiras sobre uma mulher para os outros”.
89,2% discordam da afirmativa “um homem pode xingar e gritar com sua própria mulher”.
83,6% discordam de que “dá para entender que um homem rasgue ou quebre as coisas da mulher se ficou nervoso”.
Violência sexual
58,5% acreditam que “se as mulheres soubessem como se comportar, haveria menos estupros”.
65,1% dos entrevistados concordam que “mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas”.
Acesse a pesquisa completa. http://ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/SIPS/140327_sips_violencia_mulheres.pdf