Mulheres refugiadas e migrantes buscam no conhecimento e na informação formas de combater o preconceito e a violência no trabalho
27.11.2022
Com mais dificuldades para conseguir empregos formais, elas recebem treinamentos e capacitações para conhecer as leis brasileiras e os direitos trabalhistas
Liderança entre as mulheres Warao em Boa Vista (RR), Yolimar incentiva a troca de informações e de experiências para o enfrentamento da violência (Foto: ONU Mulheres Brasil / Tiago Orihuela)Por meio do programa conjunto Moverse, implementado pela Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), ONU Mulheres e Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), com o apoio do Governo de Luxemburgo, mulheres refugiadas e migrantes venezuelanas têm recebido capacitações para encontrar no empoderamento econômico uma ferramenta de enfrentamento à violência baseada no gênero. E vão além: com informação e conhecimento, buscam eliminar o preconceito e a violência contra mulheres também no local de trabalho.
Yolimar é uma mulher indígena venezuelana da etnia Warao e uma liderança entre as mulheres refugiadas e migrantes. Ela conta que as capacitações recebidas têm ajudado as mulheres a conhecerem seus direitos, identificarem e denunciarem a violência. “A violência de gênero é um tema bastante forte e profundo para nós, mulheres migrantes. Quando vivemos em abrigos, ficamos mais expostas à violência. Por isso a importância de nos informarmos, de nos sentirmos empoderadas e de sabermos que também temos direitos, assim como os homens”, explica.
Ela reforça, ainda, a importância do empoderamento econômico como uma ferramenta para enfrentar a violência baseada no gênero. “Ter um trabalho estável nos ajuda a crescer. E a sociedade precisa dar mais valor ao trabalho das mulheres, independentemente de sua religião, de sua crença, de sua raça ou etnia”, afirma. “Cada mulher que trabalha de forma independente e tem um trabalho estável consegue enfrentar melhor as situações de violência, já que não depende de nenhum homem”, completa.
Ingrid também aproveita ao máximo as capacitações oferecidas. Ela chegou ao Brasil com cinco filhas e três filhos, e aguarda para ser interiorizada junto com a família e o marido.
A pesquisa “Oportunidades e desafios à integração local de pessoas de origem venezuelana interiorizadas no Brasil durante a pandemia de Covid-19”, lançada por meio do Moverse, mostra que a interiorização possibilita melhorias nas condições de vida das pessoas refugiadas da Venezuela. Entretanto, a estratégia ainda oferece menos oportunidades de integração socioeconômica às mulheres – em especial, às mulheres negras.
Ingrid conta que tem se capacitado para o mercado de trabalho, inclusive sobre os direitos que possui no Brasil, mas que também tem o desejo de empreender: “O trabalho é mais fácil para os homens arrumarem. Por isso é importante fazer os cursos. Aprendi como entrar em uma empresa, quais são as leis, quais são as regras, os salários, o que acontece quando a mulher engravida ou se tem alguma condição de saúde. Tudo eu aprendi nesse curso, e foi muito importante. Agora estou pronta para o trabalho.”
Sobre o Moverse – Iniciado em setembro de 2021, o programa conjunto Moverse – Empoderamento Econômico de Mulheres Refugiadas e Migrantes no Brasil é implementado pela Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), ONU Mulheres e Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), com o apoio do Governo de Luxemburgo. O objetivo geral do programa, com duração até dezembro de 2023, é garantir que políticas e estratégias de governos, empresas e instituições públicas e privadas fortaleçam os direitos econômicos e as oportunidades de desenvolvimento entre venezuelanas refugiadas e migrantes. Para alcançar esse objetivo, a iniciativa é construída em três frentes. A primeira trabalha diretamente com empresas, instituições e governos nos temas e ações ligadas a trabalho decente, proteção social e empreendedorismo. A segunda aborda diretamente mulheres refugiadas e migrantes, para que tenham acesso a capacitações e a oportunidades para participar de processos de tomada de decisões ligadas ao mercado laboral e ao empreendedorismo. A terceira frente trabalha também com refugiadas e migrantes, para que tenham conhecimento e acesso a serviços de resposta à violência baseada em gênero. Para receber mais informações sobre o Moverse e sobre a pauta de mulheres refugiadas e migrantes no Brasil, cadastre-se na newsletter do programa em http://eepurl.com/hWgjiL