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A ONU Mulheres é a organização das Nações Unidas dedicada à igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres.

Brasil

Da necessidade à oportunidade, venezuelanas empreendem no Brasil



05.10.2022


Concentrados nas áreas de alimentação e de serviços, empreendimentos de mulheres refugiadas e migrantes promovem o empoderamento e ajudam a mover a economia local

 

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Carmen Júlia começou a vender comida típica venezuelana e hoje faz desse empreendimento a principal fonte de renda da família em São Paulo (Foto: ONU Mulheres Brasil / Jessicka Matos)

 

Depois de cinco anos morando no Brasil, a venezuelana Carmen Julia consegue reconhecer em si mesma uma empreendedora. Formada em Administração, ela estava fazendo uma segunda graduação, em Direito, quando deixou a Venezuela e veio para o Brasil em busca de oportunidades. Sem conseguir emprego na área de formação, ela recorreu à produção e venda de pratos típicos venezuelanos para conseguir alguma renda. Da necessidade surgiu o empreendimento, que hoje é a principal fonte de renda da família – parte já instalada em São Paulo e outra vindo, aos poucos, para o Brasil.

O empreendedorismo é o recurso que muitas pessoas refugiadas e migrantes encontram quando chegam ao Brasil e não conseguem colocação no mercado formal de trabalho. É que o que mostra a pesquisa Desafios, limites e potencialidades do empreendedorismo de refugiados(as), solicitantes da condição de refugiado(a) e migrantes venezuelanos(as) no Brasil”, divulgada pelo ACNUR, a Agência da ONU para Refugiados.  

A pesquisa levantou um conjunto de informações sobre a atividade empreendedora de venezuelanos e venezuelanas no país e mostra que as principais áreas de atuação estão concentradas no ramo de alimentos e serviços pessoais (com destaque para salões de beleza e barbearias). Também integram o topo da lista as atividades de informática, construção, saúde, vestuário e calçados.

Empreendedorismo e renda – Lembrando no dia 5 de outubro, o Dia do Empreendedor e da Empreendedora marca o aniversário do Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte, instituído em 1999. Ao longo dos anos, e em especial durante a pandemia de COVID-19, o número de micro e pequenas empresas no Brasil aumentou, assim como a diversidade de pessoas que recorreram ao empreendedorismo para sobreviver – entre elas, pessoas refugiadas e migrantes vindas da Venezuela. 

De acordo com a pesquisa realizada pelo ACNUR, os pequenos negócios abertos por pessoas venezuelanas no Brasil se caracterizam por serem empresas pequenas e familiares, em endereços virtuais, fixos e de forma ambulante. Roraima costuma ser a porta de entrada da maioria dessa população que hoje está no Brasil, e é também onde muitas delas começam a empreender. Outro destino procurado é o estado de São Paulo, onde Carmem Julia reside atualmente. Segundo a pesquisa o faturamento mensal das empresas abertas por pessoas refugiadas e migrantes venezuelanas é bastante diferenciado. Enquanto em Boa Vista (RR) este valor está geralmente abaixo de um salário mínimo, na capital paulista o faturamento varia entre R$ 4,5 mil e R$ 25 mil por mês. 

Parte significativa dos empreendimentos, formalizados ou não, são liderados por mulheres. E é tendo este público em vista que o programa Moverse tem, entre suas linhas de atuação, a capacitação de refugiadas e migrantes venezuelanas para o empreendedorismo. Implementado conjuntamente por ONU Mulheres, ACNUR e o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), o programa Moverse tem entre os resultados esperados até 2023 alcançar 15 mil mulheres venezuelanas com treinamentos em temas de empreendedorismo, trabalho autônomo, educação financeira, além do acesso a oportunidades no mercado laboral.

“Apesar de ser um negócio em que estou iniciando, já percebo lucros e com isso vou ajudando a minha família”, afirma Carmen. Em busca de mais qualificação, ela também está reforçando os estudos e ampliando a área de atuação, de pratos típicos para confeitaria. “Estou fazendo cursos, assisto várias palestras e estou me tornando uma boa profissional como chef de cozinha. Também estou gostando da área da confeitaria gourmet”, declara. “Apesar de tudo o que passei, temos que seguir em frente e buscar uma solução. Temos que ser valentes, fortes, tolerantes e não olhar para trás”.

A história de superação de Carmem Julia serviu de inspiração para muitas pessoas que estiveram presentes no evento “Integrar e Empoderar”, realizado no dia 8 de março dentro das atividades promovidas pelo programa conjunto Moverse. Confira no vídeo a seguir um pouco mais sobre a história de Carmem Julia, compartilhada durante o evento: 

 

Sobre o Moverse – Iniciado em setembro de 2021, o programa conjunto Moverse – Empoderamento Econômico de Mulheres Refugiadas e Migrantes no Brasil é implementado por ONU Mulheres, Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), com o apoio do Governo de Luxemburgo.  O objetivo geral do programa, com duração até dezembro de 2023, é garantir que políticas e estratégias de governos, empresas e instituições públicas e privadas fortaleçam os direitos econômicos e as oportunidades de desenvolvimento entre venezuelanas refugiadas e migrantes.

Para alcançar esse objetivo, a iniciativa é construída em três frentes. A primeira trabalha diretamente com empresas, instituições e governos nos temas e ações ligadas a trabalho decente, proteção social e empreendedorismo. A segunda aborda diretamente mulheres refugiadas e migrantes, para que tenham acesso a capacitações e a oportunidades para participar de processos de tomada de decisões ligadas ao mercado laboral e ao empreendedorismo. E a terceira frente trabalha também com refugiadas e migrantes, para que tenham conhecimento e acesso a serviços de resposta à violência baseada em gênero. 

Para receber mais informações sobre o Moverse e sobre a pauta de mulheres refugiadas e migrantes no Brasil, cadastre-se na newsletter do programa em http://eepurl.com/hWgjiL