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A ONU Mulheres é a organização das Nações Unidas dedicada à igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres.

Brasil

As mulheres afrodescendentes identificam a participação como um fator-chave para atender às suas necessidades de cuidado.



25.07.2022


Os dados correspondem aos resultados da pesquisa lançada pelo Escritório Regional da ONU Mulheres para América Latina e Caribe para reunir informações sobre as necessidades, demandas e recomendações das mulheres afrodescendentes em termos de cuidados, no âmbito do Dia Internacional da Mulher Afro-latinoamericana, Afro-caribenha e da Diáspora, que é comemorado em 25 de julho.

 

De acordo com os resultados da pesquisa lançada pelo Escritório Regional da ONU Mulheres para as Américas e o Caribe para reunir informações sobre as necessidades, demandas e recomendações das mulheres afrodescendentes em trabalhos de cuidados, a principal recomendação para promover os interesses das pessoas afrodescendentes na região para fazer parte de iniciativas relacionadas com os cuidados é promover sua participação nos espaços de tomada de decisões. Além disso, o acesso à saúde e à educação surgem como as principais exigências para garantir que suas necessidades sejam levadas em conta pelas autoridades públicas, ao mesmo tempo em que exigem políticas que permitam o pleno exercício de seus direitos humanos.

“Precisamos da criação de mesas redondas, levando em conta as organizações de mulheres negras, que nos beneficiarão em termos de saúde, economia, educação, política, justiça, participação ativa, etc.” diz uma das entrevistadas.

A pandemia da COVID-19 destacou como a falta de serviços públicos de cuidado levou a uma sobrecarga de trabalho não remunerado para as mulheres, que tiveram que assumir o cuidado de crianças na ausência da escola e cuidar de pessoas doentes. No caso particular das mulheres afrodescendentes, isso foi agravado pelo fato de muitas delas se dedicarem ao trabalho doméstico remunerado, um setor em que há altos níveis de informalidade e falta de acesso aos direitos trabalhistas.

Neste sentido, as principais necessidades que as mulheres afrodescendentes que responderam à pesquisa expressam em termos de cuidados são 19,2% relacionadas à saúde e às atividades não remuneradas que elas devem realizar para cuidar de outras pessoas em caso de doenças. Isso tem repercussões em vários aspectos de suas vidas. Por um lado dificulta seu acesso ao mercado de trabalho e, por outro lado, especialmente no caso das mulheres mais jovens, interfere na sua continuidade na escola, nos estudos, etc. Além disso, a carga excessiva deste tipo de trabalho não remunerado também afeta sua saúde física e mental. Ademais, os resultados da pesquisa também mostram que o racismo, a discriminação e a violência são barreiras que dificultam seu acesso aos serviços em 33,8% dos casos.

De acordo com a UNESCO, múltiplas formas de discriminação contra meninas e mulheres persistem no século XXI, e estas são frequentemente agravadas quando vistas de uma perspectiva étnica. Nesse sentido, é necessário promover a erradicação de todas essas injustiças sociais herdadas e lutar contra o preconceito e a discriminação racial, promovendo e protegendo os direitos humanos de todas e todos.

Os cuidados são as atividades que regeneram o bem-estar físico e emocional das pessoas de forma diária e geracional. É um trabalho essencial para sustentar a vida, a reprodução da força de trabalho e das sociedades, contribuindo de forma fundamental para a economia, o desenvolvimento e o bem-estar.

A atual distribuição das responsabilidades de cuidado é altamente desigual, recaindo principalmente sobre os lares e, na maioria das vezes, realizada por mulheres de forma não remunerada. Apesar de sua importância, este trabalho continua invisível, subestimado e negligenciado na concepção de políticas econômicas e sociais na América Latina e no Caribe. Refletindo o estereótipo da feminização do cuidado, na área do trabalho de cuidado remunerado, as mulheres também estão super-representadas nestes empregos, caracterizados, em geral, por baixos salários e condições precárias de trabalho (UN Women, 2020).

“É necessário reconhecer o cuidado como um trabalho indispensável que contribui para a economia dos países, para mapear e avaliar as condições únicas vividas pelas pessoas afrodescendentes que se dedicam ao trabalho doméstico e de cuidado não remunerado, para desenvolver políticas públicas com uma perspectiva de gênero e apresentar essas iniciativas a essa população, sendo a consultoria parte integrante da implementação dessas propostas”, diz uma das mais de 300 respostas qualitativas coletadas pela pesquisa.

“As mulheres afrodescendentes não têm acesso ao mercado de trabalho, portanto não têm capacidade de ter seguro de saúde e, nas comunidades onde elas estão concentradas, há falta de hospitais e postos de saúde. Além disso, o atendimento médico às pessoas afrodescendentes é ineficiente, pois devido à sua relevância cultural, as pessoas afrodescendentes requerem diagnósticos mais precisos”, esclarece outra resposta.

Esta pesquisa foi respondida por 322 pessoas, 55% das quais vivem na Colômbia, 10% no Equador e 10% no Panamá, e 5% no Brasil. Dessas pessoas, 91,3% são mulheres, 8,1% são homens. Do número total de mulheres, 271 se identificam como afrodescendentes. A idade média das pessoas entrevistadas é de 44 anos, com uma idade máxima de 96 anos. Cerca de 9,1% das pessoas entrevistadas vivem com algum tipo de deficiência.

Desde 1992, o Dia Internacional da Mulher Afro-latinoamericana, Afro-caribenha e da Diáspora tem sido comemorado a cada 25 de julho. O objetivo desta comemoração é tornar visíveis as mulheres afrodescendentes e promover políticas públicas que ajudem a melhorar sua qualidade de vida e a erradicar o racismo e a discriminação.